Para entender o causo verídico que vou contar, tenho que explicar primeiro a conjuntura familiar no qual ele se enquadra. Esta é assim: a família do meu marido alemão é muito pequena. Ele tem duas irmãs, uma mais velha e uma mais nova. A mais velha tem dois filhos, a mais nova nenhum. A minha sogra tem somente uma irmã, a qual não tem filhos biológicos, somente os enteados, os quais não conhecemos (apesar de ela estar com seu companheiro há mais de 20 anos). O meu sogro não tem irmãos. A grande família, como tios-avós, não contam para o meu marido como família. Esta é a família da mãe dele, não dele, portanto, ele não conhece nem sabe praticamente nada dos familiares das gerações anteriores aos pais.
Dito isso, vamos ao causo: tudo começou no verão deste ano, quando nos encontramos com meus sogros e a minha sogra expressou a vontade de organizar uma festa de família, ou seja: eles, os filhos, netos, nora, genros E a irmã dela com seu companheiro. A reunião familiar, entretanto, não aconteceu por falta de organização ou interesse.
Eis que, conversando com a minha sogra por telefone em meados de outubro, já planejando as festividades natalinas, que serão na nossa casa, eu soltei essa: “eu tive uma ideia agora! Já que o encontro familiar com a tia não deu certo, porque não a convidamos para passar o Natal conosco?”
Meu marido que estava ao meu lado, quase saltou do sofá e gritou um belo e alto NÃO enquanto a minha sogra do outro lado da linha dizia: “pelamordedeus, de jeito nenhum!!” e continuou: “Eu gosto da minha irmã, mas não consigo conviver com ela por muito tempo. Por algumas horas para tomar um café ou dar um passeio, tudo bem, mas mais que isso já é demais!” E continuava se justificando sem eu pedir explicação: “Não me leve a mal, mas a gente não se entende muito bem. Convidá-la para o Natal acabaria com a nossa confraternização, eu iria ficar muito estressada.” Ao meu lado, o meu marido concordava com a mãe e balançava a cabeça afirmamente.
“Eu aprecio muito a tua boa vontade em juntar a família e ter pensado na minha irmã, mas vamos achar uma outra oportunidade, não no Natal.”
Desligamos o telefone e eu disse para o meu marido: “No Brasil ninguém nunca manifestaria sua opinião em relação a um parente desta forma. Deixar de convidar alguém para o Natal é um insulto”.
Ao que o ele respondeu muito calmamente: “Pois ela não vai se sentir insultada, já nunca passamos o Natal juntos. Ela nem espera um convite desses. Além disso, não há nada de errado em evitar o convívio com pessoas com as quais não nos entendemos, já nos poupa de uma série de aborrecimentos.”
Conclusão da história: nada como o pragmatismo alemão.
PS. sobre esta mesma tia já contei um outro causo, no qual ela nos desconvidou para sua festa de aniversário: https://www.brasanha.de/o-desconvite/
Larissa d’Avila da Costa, Gilching novembro 2023.