Esse é, possivelmente, o post mais difícil que eu já escrevi desde que tenho esse blog. Ele trata de uma leitora que se tornou uma grande amiga e estamos às vésperas de sua despedida da Alemanha.
Essa leitora achou o meu blog há um pouco mais de seis anos quando planejava a sua mudança do Brasil para a Alemanha. O marido dela viria fazer doutorado em Dresden e ela largaria sua profissão e vida confortável no Brasil para seguir o sonho do marido em seguir a carreira de pesquisador. Tem uma filha, que aquela altura tinha 3 anos. Uma menina linda, vivaz, perspicaz, que, para os padrões alemães, foi, a princípio muito agitada e carinhosa. Gostava de abraçar e beijar os coleguinhas da escolinha onde entrou, atitude com a qual eles não estavam acostumados.
Mas eu quero mesmo é falar da Ana, essa mulher que saiu do interior de Minas Gerais e foi, primeiramente para Dresden, como sua primeira experiência no exterior.
Quando ela me escreveu através desse blog, era uma mulher com muitas dúvidas e cheia de perguntas. Queria saber como tudo funcionava na Alemanha, desde de dicas sobre Dresden até se deveriam comprar uma máquina de lavar louça para a cozinha nova.
Assim que lá chegou, a insegurança tomou conta de si. Medo de se perder, de ser abordada na rua e não entender o que lhe perguntavam, medo de pegar o bonde errado e não conseguir voltar para casa. Impressiova-me muito o fato de ela não sair sozinha por causa da insegurança. Eu, que sempre fui aventureira e destemida, não conseguia entender esse sentimento.
Pois gradualmente comecei a conhecer e respeitar cada vez mais essa mulher, que, a medida que os anos passaram, foi tornando-se autônoma e traçando o seu próprio caminho. Ainda em Dresden fez suas próprias amizades, independentemente da minha ajuda e influência, e, mesmo sem saber muito bem alemão, resolveu seus problemas e tomou o seu rumo.
Alguns anos depois mudou-se para Munique, assim como eu, já não mais precisava da minha ajuda. Resolveu tudo por si e em Munique fez um círculo de amizades, daquelas com as quais se pode contar para qualquer problema, muito mais rápido que eu.
Nada de inesperado, já que a Ana, é uma daquelas pessoas que encanta com a sua sinceridade, meiguice, ponderação, sabedoria, e um senso de humor incrível. É uma daquelas pessoas com as quais podemos confiar todos nossos segredos, pedir conselhos e depois rir muito de qualquer bobagem.
Além de todas as suas qualidades, eu admiro em especial a forma como se doou a esse projeto familiar, abdicando da sua própria carreira profissional, família e amigos no Brasil para apoiar o sonho do seu marido. Só quem já passou por isso, sabe o que isso significa, a incerteza, o questionamento de estar fazendo a coisa certa e o preço que se paga por tudo isso.
A experiência de viver no exterior é muito ambígua, por um lado sofremos com a separação dos familiares e amigos de longa data, com a adpatação aos novos costumes e modo de vida, com a solidão e dúvidas. Por outro lado, crescemos pessoalmente, enfrentamos desafios, encaramos situações das quais não se pode fugir, conhecemos novos amigos e fazemos novos laços sentimentais. A Ana enfrentou tudo isso e agora sairá da Alemanha muito mais experiente e forte para enfrentar mais uma mudança e adaptação em novas terras.
Por tudo isso esse post é muito sentimental e foi difícil de escrever, porque tenho tanto a dizer a essa grande amiga, principalmente que tenha muita energia e resiliência para recomeçar a vida no novo país. Tenho certeza que encontrarás (como já encontrou) pessoas que te acolherão assim como eu o fiz.
Sou grata a todos os meus leitores, aos fieis e aos esporádicos, que acompanham minhas experiências, prestigiam minha escrita e, principalmente àqueles que entraram em contato comigo e tornaram-se amigos.
Larissa d’Avila da Costa, Gilching março 2018