Andar de bicicleta como meio de integração social

O problema da integração social de imigrantes na Europa ocidental é um tema de constante debate político e social. A questão é grave e a discussão para encontrar caminhos que viabilizem a integração de imigrantes na sociedade européia tem ganhado mais atenção de políticos e sociólogos desde que o fenômeno de gerações de familias marginalizadas em guetos tem se tornado violenta, como os incêndios de carros há alguns anos atras como forma de protesto nos arredores de Paris.

Na Alemanha além da questão social da integração de imigrantes há ainda o agravante da discriminação racial, sempre em voga em um país tão estigmatizado pela sua história. Discriminação racial aqui é crime, como nos outros países ocidentais , só que na Alemanha o foco das atenções para o tema é muito mais intenso.

No jornal Frankfurter Allgemeine do dia 16/17 de janeiro de 2010, há, pelo menos, tres artigos que giram em torno da discriminação racial e da integração social de imigrantes. Um conta a dificuldade de uma advogada de orgiem turca, recém formada, em encontrar emprego. Ela, apesar de ter nascido, se criado e estudado na Alemanha, usa o lenço na cabeça em respeito a sua religião e, por isso só conseguiu uma vaga para fazer o estágio obrigatório num órgão público, onde o chefe era cego. Após o estágio, começou a procurar emprego, e, diante do fato de não ser sequer convidada para entrevistas, abriu o seu próprio escritório e está tendo sucesso. O outro artigo relata a história de um imigrante senegales, que teve o seu internet-café fechado pelas autoridades municipais. “Oficialmente” há a suspeita de aglomerar-se ali vendedores de drogas. Não há, contudo, provas do fato. O africano pressupõe, entretanto, que o fechamento do seu negócio tem a ver com protestos e com a investigação que está fazendo por iniciativa própria acerca da morte dúbia de um imigrante amigo seu queimado na prisão da cidade.

Muito tem-se feito para tentar integrar os distintos imigrantes na sociedade alemã. Há uns quatro anos foi imposta, por exemplo, aulas obrigatórias de alemão e um curso sobre a vida e a cultura alemã para os recém chegados, que, por sua vez, não tem gerado resultados muito satisfatórios no que diz respeito a integração na sociedade propriamente dita.

O artigo que eu gostaria de comentar, porém, relata um projeto um tanto peculiar da prefeitura de Braunschweig no intuito de integrar mulheres imigrantes na cultura alemã: promovem um curso para aprender a andar de bicicleta! O projeto se chama “Ladies on tour” e tem a missão de ensinar mulheres adultas a andar de bicicleta como forma de ampliar a sua liberdade, os seus horizontes e a sua auto-estima. Muitas das mulheres que procuram o curso somente conhecem o caminho da sua casa ao supermercado ou a casa de amigas, comenta a coordenadora do projeto, Yesun Cil. Saber andar de bicicleta para muitos imigrantes de origem oriental não é uma coisa óbvia. Certamente há muitas dificuldades em ensinar adultos a andar de bicicleta, pois falta agilidade e equilíbrio. Mas as participantes do projeto são entusiastas, não se deixam abater pelos obstáculos e seguem em frente. Muitas delas motivam-se para ir além e entrar, por exemplo, novamente em um curso de alemão.

O curso dura dois meses e no final as novas ciclistas passam por um teste oficial da polícia, no qual elas provam saber desviar de obstáculos, freiar, andar em ruas estreitas e fazer curvas. O projeto já existe desde 2003 e tem dado bons resultados.

Está aí uma forma criativa, simples e cheia de vida no rumo da integração social de imigrantes na sociedade alemã.

Mannheim, janeiro 2010.

Larissa d’Ávila da Costa