A maneira como as pessoas se chamam carinhosamente é um fator de crassa diferença entre culturas. Apelidos carinhosos não podem ser traduzidos para outros idiomas, nem aplicados à pessoas que não entenderiam o seu contexto e o seu significado na língua materna. Eles variam muito de interpretação, entonação e principalmente tem muito a ver com o sentido pessoal de cada um.
Vamos começar pela maneira que chamamos crianças.
Aqui na Alemanha é comum os pais chamarem os filhos de “Maus”, que significa rato. Uma vez perguntei a um amigo alemão por que esse apelido é tão difundido se rato é um bicho tão feio. Ele me explicou: “não é qualquer rato, daqueles grandes de bueiro, é um ratinho do campo, pequeninho, branquinho” ou seja, um camundongo. Mesmo um ratinho bonitinho, seria muito esquisito um pai brasileiro chamar o seu filho de camundonguinho.
Meu sogro costuma chamar seus netos de Zwerge e Spatz. O primeiro apelido significa anão. Zwerge em alemão não significa aquele que sofre de nanismo, e sim, uma figura pequena de contos de fadas, de histórias, não possui o mesmo significado pejorativo que teria se chamássemos alguém de anão em português. O segundo apelido quer dizer pardal. Ele chama seus netos assim, porque pardal é um passarinho pequeno e bonitinho. Esses apelidos também não fariam nenhum sentido em português.
Outros apelidos comuns são “Hasi”, coelhinho, “Schneki”, lesminha, “Schatzi”, tesourinho.
Os apelidos com que casais se chamam também são curiosos. Fora a grande variação de animais, selvagens ou não, temos alguns apelidos standards. Aqui na Alemanha o básico é Schatz (e suas variações: Schätzchen, Schatzi) que significa tesouro, e Liebling, que na verdade tem dois significados: preferido e amor, fiquemos, nesse caso, com amor, que soa melhor para apaixonados.
Além desses, estão na da lista dos 10 mais usados entre casais são: Hase (coelho), Mausi (camundonguinho), Bär / Bärli (uso, ursinho), Süße (docinha).
No Brasil “amor” é um apelido comum, se não fosse o fato de ele se transformar em “mooooooooôôôôôôôôrrrr”. Note como o “o” cresce de entonação na medida que a palavra se prolonga. Ele também poderá ser mais curto ou mais longo, já identificando, dessa forma, o humor da namorada ou esposa. Ele também poderá ser acompanhado de um “ai” moooor!!!, ou um “aaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiii mooooooôôôôôôrrrrr”.
Brasileiros usam muito o paixão. Essa variante em alemão não viraria moda, pois paixão em alemão é Leidenschaft. Muito comprido.
Também muito comum no Brasil se ouvir “neguinha ou neguinho”. Isso não daria certo na Alemanha. A pessoa seria tachada de racista, o que pegaria muito mal.
A lista é infinita, poderíamos encontrar e citar uma multiplicidade de apelidos bonitinhos, esquisitos, engraçados, exóticos, criativos. Depende de cada um criar o seu próprio, adotar ou adaptar algum para si. E pode ter certeza, todo mundo tem um.
Larissa d’Ávila da Costa Mannheim, julho de 2007.