Um dos nossos vizinhos aqui na Alemanha é uma família que tem filhos de idades parecidas com as dos nossos: um menino de 11 (um ano mais velho que o meu filho) e uma menina de 6 (dois anos mais nova que a minha filha). Elas se dão bem e, frequentemente, brincam juntas.
Acontece que há alguns meses a minha filha andava evitando brincar com a vizinha. Sempre inventava algumas desculpas ou dizia que não estava com vontade.
Diante da insistência da menina, questionei a minha filha o motivo pelo qual ela não queria mais brincar com a amiga.
Ela disse: “ahhh… a G sempre quer mandar na brincadeira, sempre quer que eu faça o que ela quer. E eu cansei disso.”
“Mas você não precisa fazer o que ela quer, é só dizer que você não quer brincar desse jeito ou dessa brincadeira e vocês entram num acordo.”
“Mas não tem acordo com a G, quando eu não digo que não quero brincar do que ela quer, ela chora ou fica emburrada.”
Eu, sem ter uma solução imediata para o problema, fui conversar com o meu marido. Ele, alemão muito pragmático disse:
“Ora, é só falar isso para os pais dela: a nossa filha não quer mais brincar com a de vocês, porque ela não admite brincar de outra coisa a não ser o que ela quer.”
“Será? Mas não vamos ofendê-los?”
“É melhor falar a verdade e resolver o problema do que ficar sempre inventando uma desculpa.”
“Bem, então vá você falar isso com os pais da menina. Vocês que são alemães que se entendam.”
E ele foi. Pegou o pai da menina na porta de casa e explicou a situação e bateu a real.
A reação do vizinho foi a seguinte: “Que bom que você me disse isso. Nós já observamos há algum tempo esse comportamento da nossa filha. Aqui em casa conosco ou com o irmão é a mesma coisa, se não brincamos conforme ela quer ou se ela está perdendo um jogo, ela imediatamente se emburra ou chora. Na escolinha também. Já está na hora de ela aprender que assim ninguém vai ter vontade de brincar com ela e ela ficará sozinha. Vou conversar com ela.”
Surpresos e aliviados pela reação positiva do pai, ficamos no aguardo.
Passou-se a semana e não vimos a menina nem os pais dela.
Eis que ontem, passada uma semana da conversa com o vizinho, a menina bateu na porta. Ela trazia o cartão que está na foto que diz o seguinte:
“Querida Rafi,
Desculpa, que eu sempre quero mandar nas brincadeiras. Eu vou tentar mudar. Eu vou ficar muito feliz se você quiser brincar comigo de novo.”
Da janela da casa dela, os pais observavam a nossa reação e mandavam sinais de joinha e corações com as mãos.
Minha filha ficou feliz com a cartinha e imediatamente escreveu de volta combinando para brincarem juntas no dia seguinte.
E você, como lidaria com a situação? Teria coragem de falar a verdade ou continuaria dando desculpas? E se recebesse essa crítica, reagiria positivamente, aproveitando a situação para falar sobre o assunto com a sua filha ou ficaria ofendido?
Larissa d’Avila da Costa, Gilching marco 2021