Nosso pinheirinho de Natal artificial

Árvore de Natal artificial ou natural e a questão ambiental

Há muitos anos insisto com o meu marido alemão em comprar uma árvore de Natal artificial para decorar nossa casa para a festividade, e, finalmente, depois de 14 anos de relacionamento, consegui convencê-lo.

Para nós brasileiros uma banalidade, uma questão que nem cogitamos discutir, mas para os alemães é considerado praticamente uma blasfêmia para o Natal, pois uma das tradições natalinas é a escolha e compra do pinheirinho natural e sobre isso eles podem conversar horas a fio.

Pois bem, meu marido, convencido (e contrariado) pela esposa brasileira a comprar uma árvore de Natal artificial não passou ileso aos comentários críticos dos seus amigos e colegas de trabalho alemães. Ele mesmo apelidou nosso pinheirinho de: “pinheiro de natal brasileiro feito na China” e, no final de semana passado, quando recebemos amigos em casa, os alemães passaram uns bons 20 minutos analisando se o pinheirinho artificial era digno de ser chamado de “Weihnachtsbaum”.

Lá pelas tantas da noite, vem um dos amigos alemães conversar comigo sobre o pinheirinho artificial e eu caí na besteira de dizer que achava essa versão mais ecológica.

Parênteses no relato para uma advertência importante: NUNCA USE ARGUMENTOS CIENTÍFICOS OU TECNICOS NUMA DISCUSSÃO COM ALEMÃES SE VOCÊ NÃO TEM O EMBASAMENTO PARA CONTINUAR A CONVERSA. Eles definitivamente não vão deixar a discussão por menos, e, se tiverem conhecimento de causa, vão levá-la adiante com seus argumentos técnicos até a exaustão. Portanto, cuidado, discussões técnicas com alemães podem levar à loucura!

Voltando à história: caí, portanto, na besteira de dizer que achava que os pinheirinhos artificiais eram ecologicamente mais apropriados pois acho muito desperdício cortar árvores para serem usadas como decoração por alguns dias para depois serem descartadas.

Caçamba para descarte de árvores de Natal
Caçamba para descarte de árvores de Natal naturais

Que arrependimento…. ele veio com todos os argumentos ecológicos possíveis dizendo que os pinheirinhos são cultivados exatamente para isso, que não há desmatamento e depois os pinheiros viram adubo ou viram comida para animais no zoológico.

Não contente com a nossa discussão no sábado, ele me enviou ontem um artigo da renomada revista “Spiegel” comparando as duas variantes de pinheirinhos com a conclusão de qual é a ecologicamente mais correta. (Para quem se interessar, no final da crônica está o link e um breve resumo do artigo.)

Já mega arrependida de ter entrado na briga, e deixando de lado a parte científica (ok, ele venceu), meus argumentos a favor de um pinheirinho artificial são:

  1. Financeiro: um pinheirinho natural de um tamanho aceitável para os alemães (min 1,5m) custa entre 40 e 50€ para ser descartado depois do dia de reis. O pinheirinho artificial que compramos custou 150€ e vai durar no mínimo uns 10 anos.
  2. Praticidade: o pinheirinho artificial você compra numa caixa, monta no dia que você quiser e desmonta passada a festividade, enquanto que o natural você terá que: comprar todos os anos um pinheiro novo, transportá-lo até em casa (tarefa nem sempre fácil com pinheiros naturais), regá-lo durante o tempo em que ele estiver dentro de casa, e, passada as festividades, descartá-lo no local apropriado.
  3. Emocional: realmente eu acho um desperdício cortar uma árvore natural para ela servir de decoração para uma festividade, sendo que esse é um objeto simbólico inventado pela sociedade para tornar uma data religiosa cristã mais atraente, ou seja, um capricho.

 

O amigo alemão concordou comigo nos primeiros dois quesitos. No emocional para eles é diferente, pois eles associam mais elementos ao pinheiro natural: a tradição, o perfume da árvore natural dentro de casa e as histórias que envolvem a compra do pinheiro (ir no bosque cortar, escolher o pinheiro com a forma e tamanho ideal, entre tantas outras)

No final da conversa ele concluiu: “praktisch aber es fehlt der Duft!” “prático, mas falta o perfume!” e me enviou ontem à noite o link do artigo com a análise do balanço ecológico das duas árvores.

Aqui um breve resumo e tradução livre do artigo https://www.spiegel.de/wissenschaft/natur/weihnachtsbaum-wie-umweltschaedlich-ist-der-tannenbaum-a-1299719.html

“Oh pinheiro, de que são feitas as tuas folhas?

Plástico ou madeira, comprar ou alugar – o quanto as árvores de Natal prejudicam o meio ambiente depende do tipo de modelo. Nós esclarecemos a que os consumidores devem estar atentos.”

Sempre antes do Natal famílias discutem sobre o pinheirinho de Natal ideal: natural ou artificial. Para as duas variações há argumentos. A árvore artificial não perde suas folhas e duram mais. Em contrapartida lhes falta o perfume natalício. A questão é qual opção é melhor para o meio ambiente.

Se o consumidor usar a arvore de plástico por muitos anos, é melhor do que uma natural, argumentam alguns. Outros dizem que o plástico não pode ser decomposto biologicamente. A verdade é: nenhuma das opções são boas para o meio ambiente.

Segundo a Associação alemã de produtores de madeira industrial os almães compraram em 2018 cerca de 30 milhões de pinheiros de Natal. O tipo de pinheiro preferido é o “Nordmanntannen” com 75% das vendas. Na realidade essa espécie de árvore conífera não é natural da Alemanha.

Para o Natal os pinheirinhos são cultivados em plantações e para isso necessitam de adubo e herbicidas. “As condições das plantações são muito diferentes umas das outras e normalmente não é transparente para o consumidor”, escreve o Ministério do meio ambiente. Principalmente nas árvores vindas do exterior não é possível averiguar que tipo de produtos foram usados.”

O Ministério do Meio Ambiente recomenda, portanto, comprar árvores que tenham sido cultivadas na região e que contenham um selo de “Bio ou FCS”, ou seja, “orgânica ou FCS – cultivada em floresta”. Árvores orgânicas são cultivadas em florestas com pouco ou quase nenhum herbicida. Melhor ainda, segundo o Ministério do Meio Ambiente é o consumidor cortar ele mesmo a sua árvore, sob instruções de profissionais. Proprietários de bosques, guardas-florestais e grupos de proteção da natureza oferecem esse tipo de turismo e atividade. Duvidoso é se esse tipo de atividade consegue cobrir uma demanda de 30 milhões de árvores orgânicas por ano.

Há alguns anos existe também a possibilidade de alugar uma árvore de Natal. Ela vem plantada em um vaso, entregue em casa, recolhida depois das festividades e plantada na terra. Normalmente essas árvores são da espécie Nordmanntannen que são cultivadas em plantagens e depois transplantadas para vasos. Essa abordagem evita que as árvores sejam descartadas no lixo, ainda que nem todas sobrevivam aos dias quentes dentro de casa.

Em contrapartida, o maior problema das árvores artificiais é o material com o qual são produzidas: PVC, que é muito duradouro e de difícil decomposição. A base do PVC são petróleo, gas ou carvão, gerando pontos negativos para o meio ambiente. A empresa inglesa Carbon Trust estima que para a produção de uma árvore de Natal de 2m são produzidos o equivalente a 40kg de CO2. Dois terços da emissão para a produção do PVC e um terço para a produção da árvore.

Em comparação: ainda que uma árvore de Natal natural seja queimada após o seu descarte, ela produzirá menos CO2 que a produção de uma árvore de Natal artificial.

Conclusão: quem não quiser abdicar de um pinheirinho de Natal, dê preferência aos naturais, cultivados na região e com o selo “Bio ou FCS”. Ainda menos poluente é cortar você mesmo o pinheiro no bosque nas regiões permitidas e sob as instruções de um guarda-florestal. Além disso, as árvores de aluguel são uma alternativa sensata para economizar recursos naturais e emitir menos CO2.

Larissa d’Avila da Costa, Gilching, dezembro 2019