Os alemães dizem que não são superticiosos, nem ligar para a bolsa no chão eles ligam. Mas há uma supertição que é sagradíssima: a de não parabenizar, muito menos presentear, pelo aniversário antes da data correta. Dizem que dá azar, e todo mundo respeita. MESMO!
E quando a pessoa faz aniversário no começo da semana, por exemplo na segunda, comemora quando? Os alemães comemorarão impreterivelmente no final de semana seguinte e jamais no anterior.
Há uma particularidade nessas comemorações “antecipadas”, é o tal do “reinfeieren”, traduzindo livremente: adentrar o aniversário festejando. Soa um pouco sexual, mas o negócio funciona assim, exemplo: o cidadão completa anos no domingo, mas como domingo não é um bom dia para festas grandes, ele convida as pessoas para a festa no sábado. Sim, no sábado, mas preste atenção: você não poderá parabenizar o aniversariante antes da meia noite!!
Eu passei pela seguinte situação num desses „adentros de aniversário“. Fomos convidados para a tal da festa, mas eu não sabia que o dia exato do aniversário era somente o dia seguinte. Cheguei na festa com o meu marido, a dona da festa veio nos receber, meu marido a cumprimentou e eu quando fui fazer o mesmo, comecei:
– Herzl…. – queria dizer “Herzlich Glückwunsch zum Geburtstag”, que “feliz aniversário” em alemão é tudo isso aí, e, claro, ficou fácil de ela me interromper, olhar-me nos olhos e dizer:
– Não! Meu aniversário é só amanhã, isso é uma “Reinfeier”! – ou seja, uma festa adentrante.
E eu, muito sem graça:
– Oh desculpa, então teremos que esperar.
Pois esperamos. O problema dessas festas alemãs é que elas começam sempre muito cedo (nesse caso, as cinco da tarde), e se o teor alcoolico não for subindo no decorrer da noite (como foi o caso), chega às onze da noite está todo mundo bocejando.
Bocejando ou não, estávamos lá, cinco casais (os que sobraram sem filhos, os felizardos com filhos já tinham dado no pé – sem felicitar a aniversariante, obviamente), “animadíssimos” esperando dar a meia noite para podermos, finalmente, parabenizar a criatura.
Um pouco antes da meia-noite, os copos foram novamente enchidos e todo mundo ficou aguardando tocar o carrilhão para brindar. Parecia contagem regressiva de ano novo, só que desanimado. Aí à meia-noite, todos nós levantamos os copos, brindamos, parabenizamos a aniversariante, cantamos um “happy birthday” murcho (aqui eles cantam –geralmente- em ingles, não batem palmas, e a melodia é muito mais devagar) e demos o presente.
Por educação, ficamos ali mais uma horinha e, cansados, todos foram às suas casas.
Legal, não?
Os meus sogros, aposentados, e tendo amigos aposentados, tinham um ritual de aniversário com um casal de antigos vizinhos. Sempre no aniversário de um deles, o outro casal ia, independente do dia da semana, sempre por volta das onze e meia, para a casa do aniversariante esperar a meia-noite para felicitá-lo, tomavam uma champagne ou um vinho, ficavam um tempinho batendo papo e casal voltava para casa.
E eu, quando conto que no Brasil não tem isso, cada um comemora o aniversário quando quiser, eles me olham com uma cara incrédula. Uma vez ouvi o seguinte:
– E se a pessoa faz a festa antes do dia e morre antes de completar os anos?
– Aí pelo menos morreu feliz, com uma festa de aniversário e de despedida.
Ô pensamento, hein?… convenhamos…
Larissa d’Avila da Costa, Dresden julho 2012.