Conversas telefônicas

Muita diferença exite no jeito em que você atende o telefone em diferentes países.

Na Alemanha, como prevalece a lógica e o “vamos direto ao assuto”, costuma-se atender o telefone dizendo o seu sobrenome.

Trrrrrrrrrrrrrriiiiiiiimmmmmm

– da Costa.

– Hallo Frau da Costa, hier ist Frau Baumann von der Messe Agentur. (Olá Sra. Da Costa, aqui é a Sra. Baumann da agência de feiras)

– Ja, hallo Frau Baumann.

E assim já se sabe de imediato se quem atendeu o telefone é a pessoa com quem você gostaria de falar, e também já se identifica-se para que o ouvinte também saiba de imediato com quem está falando.

Ou então: trrrrrrrriiiiiiiimmmmmm

– Becker.

– Ja, hier auch. (sim, aqui também). Esse diálogo em tom de brincadeira costuma ser repetido entre o Christian e a família dele. Como todos da família se chamam Becker, fica um tal de Becker para cá e para lá.

Ou ainda: ttttttrrrrrrrriiiiiiiiimmmmmmmm

– Ja, Larissa

– Guten Tag, ist das Frau da Costa? (Bom dia, é a senhora da Costa?) – Nessa variante o interlocutor alemão não está acostumado a ouvir o primeiro nome da pessoa ao invés do sobrenome e fica confuso se está falando com a pessoa desejada. Aqui não é comum que se chamem estranhos pelo primeiro nome, por isso a necessidade de confirmar a identidade daquele que fugiu à regra.

Conforme vamos andando para países latinos, essa praticidade vai diminuíndo e prolonga-se o diálogo para descobrir quem foi que atendeu o telefone.

Na Itália é o seguinte: tttttrrrrrrriiiiiimmmmm

– Pronto.

– Ciao, c’è Paolo? (oi, o Paolo tá aí?) – observação, em italiano se usa o ciao também para oi, não quer dizer que a pessoa está se despedindo de você.

– Si. Qui parla?

– Sono Larissa.

Na Espanha o costume também é engraçado: ttrrrrrrrrrrriiiiiiiimmmmm

– Si, digame. (sim, me diga) – nesse caso os espanhóis não estão nem aí para quem está falando, ou preocupados se quem ligou está falando com a pessoa certa, já te mandam de cara falar alguma coisa.

– Hola, soy Larissa, está Sabrina?

Mas o mais engraçado mesmo é voltar para o Brasil e atender o telefone em casa com jeito de alemão.

Trrrrrrrriiiiiiiimmmmm

– Larissa

– Que é isso tchê, parece que tá trabalhando num consultório dentário!!

Ou então:

Trrrrriiiiimmmm

– Larissa

– Baaaaaaaaahhhhhhhhhhhh, o que é isso maninha…. tu tá em casa e não num consultório médico.

A pior das manias dos brasileiros é a advinhação. Como se você tivesse obrigação de identificar apenas pelo “alô” quem está na outra linha.

Trrrrrriiiiiimmmmmm

– Alô.

– Alô. Neuza?

– Não, é a Larissa.

– Oi Larissa, tudo bem? Ué, tá no Brasil? Não sabia que tu estavas aí!! Quando tu chegou, guria?

– …É, pois é, cheguei ontem… quem está falando?

– Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhh….. não sabe quem está falando? Bem que se vê mesmo que está fora há muito tempo. Aqui é a tia da prima da vizinha da vó, lembra??

– ããããñnnn….

Quando os telefonemas não são tão pessoais, nem assim somos muito diretos. Trrriiiiiim

– Alô.

– Alô. Com quem estou falando?

– Com quem gostaria de falar?

– Com a Fulana. Quem está falando?

– Aqui é a Cicrana. A Fulana não está, quer deixar recado?

Já me aconteceu também o seguinte:

Trrrrrriiiiiimmmmm

– Larissa

– Larissa!! Wie geht’s dir? Ha ha ha ( apenas uma frase em alemão lembrada dos tempos da escola, e eu achei que era uma amiga minha de origem alemã).

– Mir geht’s gut!! Ha ha ha… E aí, “pirua”, tudo bem???

– Pirua!!!! Ha ha ha … essa é muito boa!!! Aqui é a tia Silvia!!! (Silvia é uma amiga da minha mãe)

– oooopppsss… tia Silvia… desculpa, tinha quase certeza que era uma amiga minha…

Assim, essas pequenas diferenças do cotidiano tornam a vida divertida e a comunicação intercultural fica mais rica.

Larissa d’Avila da Costa, Mannheim, julho de 2007.