Despedida de Porto Alegre

Irremediavelmente, antes de qualquer retorno à Alemanha, sempre há as compras de últimíssima hora a fazer. São sempre coisas diferentes, um presente que faltou, um CD ou um DVD que não foram econtrados. Dessa vez foram remédios (sempre trago Multigripe e Neosaldina) e plástico bolha para embalar as garrafas que levaria na mala.

Para isso, levantei cedo e cheguei na Rua da Praia um pouco depois do horário de abertura das lojas. O sol já ardia, mas o calor ainda era suportável para aquele dia de final de dezembro. A rua ainda estava vazia dos seus pedestres apressados e dos seus planfeteiros.

Dado esse momento de tranquilidade nessa tão movimentada rua, tomei meu tempo e apreciei a linda arquitetura dos poucos casarões que ainda restam de uma época de glória do centro de Porto Alegre.

Na rua Uruguai encontrei uma papelaria onde pude comprar o plástico bolha que ainda me faltava. Saindo da loja, notei o tradicional Café à brasileira, no qual eu nunca tinha entrado. Como ainda não tinha comido nada, pensei que essa seria uma boa oportunidade para conhecer a famosa cafeteria e despedir-me da cidade.

O café conserva o seu estilo antigo através das paredes de madeira escura e espelhos. O espaço é longo e estreito, de um lado o balcão e de outro mesas. O público cativou-me de imediato: senhores e senhoras aposentados que não tem outro compromisso com a vida a não ser desfrutá-la, conversando animadamente uns com os outros, lendo o jornal e tomando o seu cafezinho.

Paguei o meu pedido no caixa, peguei o ticket e me dirigi ao balcão. A passagem entre esse e as mesas é estreita, de forma que o senhor que estava no sentido contrário ao meu, parou, sorriu, estendeu a mão dando-me passagem e disse: “tenha a bondade!”. Que lindo ouvir isso! Há quanto tempo não ouvia essa expressão! Como não abrir um sorriso em forma de agradecimento a esse gesto e palavras tão gentis?

Chegando ao balcão, fiz meu pedido ao atendente, ainda encantada com as palavras que acabara de ouvir, quando o senhor ao meu lado diz o seguinte: “por gentileza, meu jovem, uma água sem gás”. Outra vez momento de êxtase para meus ouvidos! Que maravilha que ainda hajam pessoas que utilizem esse portugues, infelizmente, antigo e praticamente em desuso. Que felicidade saber que ainda há senhores que preservam a cortesia!

Saí do Café à brasileira na mais completa felicidade. Já poderia voltar para a Alemanha, esse momento de alegria fechara com chave de ouro mais uma estada no meu querido país.

Porto Alegre, dezembro 2009.

Larissa d’Ávila da Costa

http://vejabrasil.abril.com.br/porto-alegre/comidinhas/cafe-a-brasileira-32442