Morar nos chamados “países de primeiro mundo” não significa necessariamente ter uma vida mais fácil ou mais chique. Principalmente para aqueles brasileiros, que, desfrutando da diferença de classes sociais do nosso querido país, usufruem de certas mordomias e facilidades não encontradas com preço acessível nos países “do velho mundo” ou norte americanos.
Isso quer dizer que a maioria dos serviços a que somos habituados no Brasil, como por exemplo, faxina, pintura e reforma de casa, frete, mudança, custam aqui muito dinheiro. E vão continuar custando até que não hajam poloneses, romenos, eslovacos suficientes nesse lado da Europa para baixar o custo da mão-de-obra. Em outras palavras, aqui a regra ainda é o “do it yourself”, ou no bom português: se vira!
Pois então o tema dessa crônica é a mudança. Para se fazer uma mudança na Alemanha você precisa basicamente de: organização, tempo, e, o mais importante de tudo: amigos!
Tudo começa com o encaixotamento dos seus pertences, que tem que ser feito por você mesmo. Primeiro você precisa comprar as caixas próprias para a mudança, que podem ser conseguidas mais barato se você pesquisar no jornal um anúncio de pessoas querendo vender tais caixas.
Enquanto o processo de encaixotamento vai andando, você deverá pesquisar o preço do frete. Para isso não basta você sair na porta de casa e ligar para um número pendurado num caminhão que diz: “Faço frete” ou perguntar para o porteiro do seu prédio se ele não faria o serviço depois do expediente ou não conhece alguém para indicar. Não, aqui você deverá mesmo ligar para uma empresa especializada em mudança, que perguntará exatamente qual é o conteúdo a ser transportado e lhe dará as datas ainda disponíveis para ser feito o transporte, o que poderá ser somente no mês seguinte. Uma mudança completa de um apartamento de dois quartos para duas pessoas, de uma cidade a outra a uma distância de 360km custa em torno de 1.800 euros, ou seja, você pensará duas vezes antes de contratar o serviço.
A variante mais barata, e o do it yourself propriamente dito, é naturalmente, você mesmo alugar uma van, chamar os amigos e mão na massa.
Quando você já tiver tudo ordenadamente encaixotado, com um bilhetinho em cima de cada caixa dizendo o que cada uma delas contém, e a van alugada, então você poderá ligar para os seus amigos e marcar o dia da mudança.
Uma mudança é considerada “bem organizada” quando seus pertences já estão todos devidamente separados e há amigos suficientes para ajudar a carregar e descarregar tudo. Os móveis mais pesados são carregados primeiro e depois as caixas, tudo devidamente organizado. Se há gente suficiente, faz-se um tipo de “corrente” e vão passando umas caixas as outras desde o apartamento até o meio de transporte, para que não haja necessidade de ir e vir muitas vezes. Se você vai se uma cidade a outra, é importante ainda que você tenha amigos já te esperando no destino, senão você corre o risco de ter que descarregar tudo sozinho. E se você tiver amigos muito fiéis mesmo, eles irão acompanhá-lo até a cidade destino e ajudá-lo na segunda parte da odisséia.
No final de toda a função, você economizará um bom dinheiro, mas terá trabalhado um bocado. E claro, para agradecer a boa vontade e a colaboração de tão fiéis e prestativos amigos, você deverá oferecer-lhes, ao menos um jantar.
Larissa d’Avila da Costa, Mannheim, abril de 2007.
