Estar grávida

Se ser mãe é padecer no paraíso, então gestar é preparar-se para isso. Muita gente me pergunta como é estar grávida, por isso resolvi escrever sobre o assunto, agora que já estou nos altos do sétimo mes e o bebê torna-se notável com seus chutes e movimentos constantes dentro de mim.

Pois gestar é isso: preparar-se para uma nova fase da vida, aquela em que você não é mais você indivíduo egoísta, senão terá que descobrir uma nova pessoa em si. Como no ótimo filme “As vidas secretas de Pipa Lee”, de Rebecca Miller, temos vários “eus” dentro de si. Na infância éramos criança e somente filho, na adolescência rebeldes, na juventude o descobrimento e desenvolvimento da personalidade, na vida adulta a eterna busca do caminho certo e os temores da responsabilidade, como casal o compartilhar da vida, respeitar e reconhecer a vontade do outro, e como pais aprender definitivamente o significado do“amor incondicional”.

A gestação, portanto, serve para isso, para você se preparar a aceitar essa nova identidade, a de ser mãe, de ser responsável por uma criatura, que dependerá somente de você, da sua paciência, do seu senso de responsabilidade, de moral e dos seus ensinamentos. Você não será mais aquela que fez sempre tudo o que lhe deu na telha, senão aquela que colocará o filho em primeiro lugar, abdicará dos seus prazeres pessoais em prol do rebento.

Essa renúncia consciente de suas vontades já começa, pois, durante a gravidez com uma série de restrições alimentares, por exemplo. Você já não pode tomar bebidas alcoolicas, nem comer carne mal passada, salada somente bem lavada, não pode chegar perto de gatos, se não possui os anti-corpos contra toxoplasmose, tem que controlar regularmente os níveis de ferro, pressão e peso; e tentar manter uma rotina calma e curtir esses nove meses de espera.

Devo confessar que para mim não é uma adaptação fácil – menos mal que há tanto tempo para isso – eu que sempre fui independente, festeira, viajadora, e, que graças a Deus, tenho um marido e vivo numa cultura que respeita e entende a individualidade do outro. Eu, que preciso de momentos de solidão, que decido de uma hora para outra ir no cinema, que adoro dormir, que curto ir para um parque ler um livro ao sol, e que tenho tantos momentos bons sozinha, estou fazendo desde já um reajuste ao outro extremo: o de nunca mais estar sozinha.

É um novo processo de transformação, de mudança, mais um na minha vida, talvez a mudança mais radical de todas. É o descobrimento de uma nova Larissa, aquela que será mãe, responsável por uma outra vida. E que venha em toda a sua plenitude!

Larissa d’Avila da Costa, Dresden agosto de 2010.