Há certos comportamentos na Alemanha que ainda me custam entender. A rigorosidade dos horários de fechamento dos seus negócios, é uma delas. Aqui vai o relato de algumas situações em que, simplesmente, não me deixaram entrar numa loja ou deixaram de me atender por eu chegar pontualmente no horário marcado de encerramento das atividades.
No ano passado, há uma semana do Natal fui ao correio levar uma correspondência para ser enviada. O horário de fechamento da agência perto de casa é 18:00 horas. Cheguei na frente do bendito lugar exatamente às 17:59. Havia uma fila imensa de pessoas, que estavam quase saindo para fora da porta. Diante do fato, decidi comprar os selos na máquina automática, que fica a uns 2 metros da entrada. Na tentativa de compra, constatei que a máquina estava estragada. Voltei para a porta e já havia uma funcionária do correio ali. Eram, então, exatamente 18:00 horas. Perguntei a ela:
– Posso entrar na fila?
– Não, já são 18horas e só serão atendidas as pessoas que chegaram até esse horário na agência.
– Sim, mas eu tentei comprar os selos na máquina e ela está estragada. Será que eu não posso esperar, afinal são exatamente 18horas? – Argumentei.
– Não. – E a mulher me olhava impassível, com um olhar sem piedade, quase cruel que só vi em olhos alemães até hoje.
– Então a senhora sabe me indicar uma outra máquina aqui por perto que funcione?
– Não.- e continuava impassível como uma general.
Então tive que dizer-lhe:
– É um absurdo mesmo, na época de Natal, deixarem as máquinas estragadas e terem funcionários tão antipáticos. – Entretanto, como reclamar não resolve os problemas, não tive outro remédio que voltar no dia seguinte.
Hoje me aconteceu algo parecido. Fui lavar o carro numa dessas lavagens automáticas, em que os únicos seres humanos que estão lá para fazer alguma coisa são: o carinha que cobra e o que dá um jato de água no carro para sair a sujeira mais grossa. Nem para passar o aspirador há funcionários. Do lado de fora tem umas máquinas automáticas de aspirar e quem faz o serviço é o próprio dono do carro.
Pois bem, eu não sabia qual era o horário de fechamento da lavação e resolvi arriscar, levando em conta que, tudo o que você tenta fazer no final da tarde, corre sempre o risco de dar com a porta na cara.
Cheguei na lavação pontualmente às 18horas. O que eu vejo? A cancela já fechada. Pensei: “Não é possível‼ Esses caras não gostam de ganhar dinheiro‼”. O funcionário ainda estava por ali e havia gente passando aspirador nos seus carros. Fiquei perplexa olhando para aquilo, enquanto o funcionário gesticulava furiosamente indicando que já estava fechado. Eu olhei para ele, apontei o relógio como quem pergunta: “que horas fecha?”. Ele gritou tão alto, que, mesmo com as janelas fechadas ouvi a sua resposta: “Achtzehn Uhr‼” (dezoito horas).
Mas a pior de todas aconteceu há um tempo atrás. Estava em Hannover e não tinha conexão com internet na casa da minha cunhada e eu precisava abrir minha caixa postal e imprimir um e-mail. Ela mora num bairro residencial e foi difícil encontrar um internet-café. Finalmente, depois de caminhar muito, encontrei um, olhei no relógio para conferir o horário: 17:50. “Ufa‼”, pensei, “ainda tenho dez minutos”. Entrei no lugar vazio e um senhor de meia idade, com uma cara de aborrecido e frustado da vida me olhou como quem pensa: “o que quer essa criatura a essa hora?”.
Sorri e disse gentilmente:
– Boa tarde, eu gostaria de usar um computador e imprimir um documento.
– Desculpe, mas os computadores já estão desligados.
Não estava acreditando no que ouvia. Olhei para o relógio e disse:
– Mas ainda faltam dez minutos para as seis.
– Pois é, mas como tem pouco movimento decidi desligar tudo antes da hora.
E eu ali parada, na frente dele, esperando que ele se prontificasse a ligar um dos computadores novamente, quando ele me disse:
– Lamento, a senhora terá que procurar outro lugar ou voltar amanhã.
Dá para entender?
Larissa d’Avila da Costa, Mannheim, março 2009