Eu era madame e não sabia

Bons tempos aqueles do Brasil em que eu ia na manicure todas as semanas, pedicure e depilação a cada duas semanas, escova sempre que fosse necessário, shopping center com estacionamento coberto, supermercado ídem, carro na garagem no subsolo do prédio, faxineira semanal, e um quebra-galho sempre à disposição para qualquer eventualidade.

Esses tempos de mão de obra barata e serviços ao seu dispor acabam quando você vem morar na Europa. Aqui a regra é a seguinte: aprenda a fazer sozinho, vire-se e boa sorte.

Para mim o primeiro choque foi manicure. Fazer as mãos? Acho que nunca tinha tentado no Brasil. Aqui tive que aprender na marra, lixar as unhas da mão direita tão perfeitamente quanto as da  mão esquerda, tirar cutícula, pintar tudo parelhinho, tirar o excesso de esmalte… não é uma tarefa tão simples como se pensa… Já perdi muito tempo sentada com o meu super kit-manicure tentando emparelhar o esmalte, cuidando para não borrar muito, e, na hora fatal de limpar o excesso, um movimento em falso e pimba! O palito vai parar lá no meio da unha… que raiva… tira o esmalte e começa tudo de novo… haja paciência!

Depilação com cera então nem se fala, comecei com as tiras de cera fria, aperfeiçoei a técnica com a cera quente e depois de oito anos de prática, posso dizer que já faço bem, muito melhor que fazer as mãos.

E escova então? Por mais anos de treinamento que eu tenha, nunca vou chegar a perfeição da escova feita por um cabelereiro. Você fica horas na frente do espelho, o cabelo dividido com piranhas, o secador numa mão e a escova na outra. E aquele troço vai esquentando seus miolos e sua paciência. Lá no final você não aguenta mais de dor nos braços e resolve deixar aquela última mexa de cabelo bem atras da sua cabeça não tão lisa quanto o resto porque já não pode com o barulho do secador.

Faxineira? Muito prazer, Larissa. Caso você não esteja disposto a pagar em média 10€ a hora pela “horista” e não diarista, arregace as mangas e mãos à obra. Aqui contrata-se a faxineira por hora e geralmente para o “basicão”, isso é, passar o aspirador, tirar o pó, limpar banheiro e cozinha. Mesmo assim não fica lá essas coisas, elas fazem do “jeito delas”, que definitivamente não é o “nosso jeito”. Em geral, para um apartamento de 70m² cobra-se tres horas de trabalho. Se você não está a fim de pagar o preço, só resta dividir as tarefas com o seu cônjuge no fim de semana e rezar para que não saia briga.

Isso que não entrei ainda nos serviços mais pesados, como pintar apartamento, fazer a própria mudança, montar os próprios móveis. A lista é imensa e inacreditável para quem nunca teve essa experiência no exterior.

Então, meus caros, se vocês acham chique morar na Europa, os convido a passar uns seis meses aqui, ajudar numa mudança ou na renovação de um apartamento. Você irá mudar de idéia rapidinho. Aiii… que saudade do meu tempo de madame…

Larissa d’Avila da Costa, Mannheim abril 2010.