Minha mãe me ligou e perguntou:
– E daí, o Samuel chegou bem, está bem?
– Não sei, ele não pôde levar celular, respondi.
– Mas a professora não deu notícias, não ligou para avisar se chegaram bem, se estão bem acomodados?
– Não, não ligou e nem vai ligar. Ligações só em casos de emergência.
– Mas vocês vão ficar toda a semana sem notícias dos filhos? perguntou ela incrédula.
– Sim, vamos. Aqui é desse jeito. A gente entrega os filhos e confia que vai dar tudo certo.
– E reza, acrescentou minha mãe. Que coisa séria…para nós no Brasil ficar sem notícias dos filhos é impensável, inconcebível. concluiu ela.
O diálogo se refere a uma excursão da escola, na qual o meu filho (13 anos) está participando esta semana.
Todas as turmas da 7a série tem, no currículo escolar do estado da Baviera, uma semana de curso para aprender a esquiar. Participar desta semana de aulas de esqui não é obrigatório, mas muito recomendado, de modo que a grande maioria dos alunos participa.
O curso, acomodação, transporte e refeições são organizados pela escola e pagos pelos pais dos alunos. Este ano a excursão custou 420€ (todo o pacote) mais o aluguel do equipamento de esqui (50€/5dias) para quem não o possui. Para as famílias que não têm condições financeiras de proporcionar isso aos filhos, há a ajuda da Associação de Pais da escola, que cobre (em parte ou totalmente) o valor.
Além de aprender e praticar o esporte em si, excursões incentivam o convívio social, a independizaçāo, a resolver problemas sozinhos em um ambiente estranho.
Não é só para alunos da 7a série que estas excursões são oferecidas. Na 6a série ele já foi com a turma da escola numa excursão de três dias para fazer caminhada nas montanhas. Também faz parte do currículo escolar. Quanto mais idade as crianças têm, mais longas e distantes são as excursões escolares.
Além disso, há algumas escolas primárias, que também fazem excursões com seus pequenos alunos.
Nas férias escolares, há muita oferta de acampamentos juvenis ou colônia de férias.
Em todos eles, as crianças não podem levar celular ou algum tipo de aparelho eletrônico.
Os pais têm somente o telefone da professora/professor responsável e endereço do local.
Os responsáveis pelos alunos só entram em contato em caso de emergência, ou, obviamente, se a criança pedir para ligar, sentir saudades, medo e querer voltar mais cedo para casa.
E sim, você fica sem notícias de seu filho. Como diz o ditado: „notícia ruim chega logo“. Então o jeito é entregar, confiar e rezar.
Larissa d’Avila da Costa – Gilching, fevereiro 2024