Êxodo brasileiro: alguém quer voltar?

A cidade onde eu moro há cerca de quatro anos, nos arredores de Munique, está sendo um dos muitos palcos do fenômeno do êxodo de cabeças pensantes brasileiras. A pergunta que surgiu numa conversa foi a seguinte: “começar a vida aqui é difícil, mas, alguém quer voltar?”

Quando eu cheguei na Alemanha há 17 anos atrás, os emigrantes brasileiros tinham um outro perfil: a grande maioria deixava a pátria amada para literalmente “tentar a vida lá fora”, saiam com uma mão na frente outra atrás, tornavam-se trabalhadores braçais. Outro numeroso público eram mulheres que se casavam com “gringos” sonhando ser esse o caminho para melhorar de vida, caindo muitas vezes em maus lençóis. A minoria dos emigrantes eram estudantes (mestrandos, doutorandos), intercambistas, Au-pairs (jovens que vinham trabalhar como babás em casas de famílias) ou puramente “aventureiros” (como eu). Raros eram aqueles que deixavam o país por uma oportunidade de trabalho concreta.

Desde há uns anos atrás esse quadro mudou: o êxodo de brasileiros imigrando para o exterior é impressionante, e, diferentemente de 20 anos atrás, quem está deixando o país agora é mão de obra qualificada, cabeças pensantes que vem com emprego fixo trazendo consigo suas famílias.

Pois bem, na minha cidade há muitas dessas famílias e não param de chegar. Acolhemos todas de bom grado e, faço o que posso para que todos consigam superar as dificuldades práticas dos primeiros tempos. E ontem, numa feijoada tipicamente brasileira para mais de cinquenta pessoas, no meio de uma conversa de diferenças culturais, surgiu o questionamento: “aqui é difícil, mas alguém quer voltar?”

Eu formularia a pergunta de outra forma: “se o Brasil oferecesse as mínimas condições de vida (saúde, segurança, educação e vergonha na cara) alguém teria saído?”. Arrisco a palpitar que 90% dos emigrantes brasileiros não deixariam o país ou pensariam seriamente em voltar, após uma experiência no exterior, se as condições de vida na “pátria amada idolatrada” fossem ideais.

A experiência pessoal de se viver no exterior é incrível: crescimento pessoal, encarar desafios, sair da zona de conforto, conhecer novos lugares, adaptar-se a nova cultura, ter um parâmetro de comparação, mas, aguentar o tranco de viver na condição de estrangeiro, sem pertencer e nem entender totalmente a sociedade onde se vive, não é para qualquer um.

O meu sentimento em relação ao fenômeno da emigração brasileira é paradoxal: por um lado alegro-me imensamente que essas famílias tenham a oportunidade de sair do país com emprego garantido, que tenham a chance de oferecer para seus filhos qualidade de vida, segurança, saúde e educação. Por outro lado, entristece-me imensamente ver o meu país empobrecer intelectualmente sem perspectiva de melhora.

Viver no exterior tem sim suas vantagens racionais, mas o nosso coração, nossas raízes, nossos valores permanecerão sempre verde-amarelo e o sonho de um dia voltar, confesso, nunca acabará.

Larissa d’Avila da Costa, Gilching fevereiro 2019