Acredito se ainda morasse no Brasil não teria a oportunidade de conhecer tantos paulistas e paulistanos e te-los como amigos. E aqui na Alemanha eu tenho muitos. Aliás, praticamente só tenho amigos paulistanos, o que faz-me observar e analisar alguns hábitos curiosos dos natos na “terra da garoa”.
O mais engraçado de tudo é que paulistas e paulistanos em geral não conseguiriam formar uma frase, principalmente começar uma, se não houvesse a palavra “então”. O “então” serve para tudo, principalmente para começar uma explicação ou uma desculpa. O engraçado de falar com paulistanos e paulistas, é contar quantas frases eles iniciam com a palavra “então”. São muitas, aliás quase todas. Até mesmo para resposta de perguntas simples como “vamos ao cinema hoje a noite?” “então… (pausa) acho que eu posso sim.” E quando você explica alguma coisa a eles, consequentemente virá o inevitável: “entedi”. Eles não dirão “ahh tá” ou “tá bom” ou mesmo “ok”, não, eles dirão formalmente: “entendi”. Soa estranho para meus ouvidos gaúchos.
Mas o que eu quero comentar aqui é o curioso hábito dos paulistanos de terem que localizar-se geograficamente nessa imensa cidade quando acabam de conhecer um conterrâneo. É como se os intelocutores checassem previamente o caráter do paulistano que lhe foi apresentado através da localização do bairro, e até mesmo a rua, de onde vem o recém conhecido. Eles alegram-se imensamente em conhecer outra pessoa da sua cidade e a pergunta imediata que virá após a apresentação dos nomes é: “de que bairro você é?”. Aí começa a grande descrição do bairro, das ruas até chegar exatamente na rua onde você morou, ou onde os pais ainda moram, como se a partir dessa preciosa informação os interlocutores pudessem determinar previamente quem o outro é. E essa descrição pode demorar até meia hora para que eles possam realmente identificar a procedência da outra pessoa. E quando esse prévio “check out” da personalidade for concluído satisfatoriamente, eles sorrirão felizes um para o outro e dirão: entendi!
Até mesmo quando você diz que ficou alguns dias em São Paulo na casa de parentes ou amigos, o paulistano lhe perguntará em que bairro, em que rua ou perto do que. Se você não conseguir dar-lhe uma resposta satisfatória, ele tentará ajuda-lo a localizar-se, indicando pontos ou lojas que possam auxilia-lo na descrição, e se mesmo assim isso não funcionar, ele ficará um pouco desapontado e não dirá “entedi”.
O instigante desse hábito é especular porque ele existe. Será que o bairro no qual o paulistano foi criado determina a sua personalidade, o seu poder aquisitivo, o nível de escolaridade? Ou será que há a necessidade de identificação numa cidade imensa e anônima? Em todos os casos, aviso o seguinte: o sotaque paulistano pega, meu!
Larissa d’Ávila da Costa, Mannheim abril 2010.