Sabrina se compadeceu com a sogra alemã, que passaria mais um Natal sozinha e resolveu convidá-la para passar a ocasião com eles, seu filho e netos.
A sogra, que mora na cidade vizinha, a 20 km de distância, foi convidada para passar os dias de Natal, que na Alemanha se estendem até o dia 26 de dezembro. A senhora aceitou o convite de bom grado.
Sabrina, portanto, começou os preparativos para a festividade: decoração da casa, ceia de Natal, almoço no dia seguinte, presentes, tudo para que a confraternização saísse linda e harmônica.
No dia 24, a ceia estava marcada para às 19 horas. Sabrina preparou tudo, mesa decorada e posta, presentes embaixo da árvore. As crianças estavam ansiosas para abrir os presentes, mas a avó não chegava.
Chegou com uma hora de atraso, o que é muito atípico na Alemanha, e, quando sentaram-se todos para jantar, a senhora disse que não iria comer, que estava sem fome.
Na verdade, a senhora estava ofendida porque a nora não tinha preparado o prato típico de Natal na Alemanha: salada de batata e salsichas bock aferventadas. Sim, este é o prato típico servido na ceia de Natal do dia 24. Ao contrário de nós, que festejamos o nascimento de Cristo com fartura, os alemães entendem que, como Jesus era um homem muito humilde e generoso, há que se comemorar o seu nascimento à maneira como ele viveu: modestamente.
A sogra alemã, diante da fartura dos quitutes preparados pela nora, sentiu-se ofendida e, sentada à mesa, não comeu nada. Volta e meia, oferecia as salsichas que tinha trazido consigo. Insistia em oferecer as salsichas-bock, e, Sabrina, já sem paciência, disse: nós temos comida suficiente e não queremos comer salsichas!
No dia seguinte, Sabrina esmerou-se no almoço: assou dois patos, cozinhou batatas e repolho, prato típico nos natais alemães. Na hora de comer, sua querida sogra foi até a cozinha e esquentou a marmita que havia trazido: pato assado com chucrute, exatamente o que a anfitriã tinha cozinhado com tanto esmero.
Surpreso, seu filho disse: “mãe, a senhora não precisa comer comida requentada, Sabrina cozinhou o suficiente para todos nós”. “Prefiro assim”, respondeu.
Como se não bastasse os importuitos das refeições, a visita, que estava planejada para dois dias e, chegando ao fim do dia 26, a senhora não dava sinais de querer ir embora.
Ficava somente em casa, sem sair, conversando com quem estivesse por perto, criticando o andamento da rotina ou assistindo televisão com o volume às alturas.
Sabrina, já arrependida da sua bondade natalina, trancava-se no seu quarto para poder ter um pouco de sossego ou ligava para uma amiga brasileira e lhe pedia: “fale comigo, seja o que for, não desligue o telefone, se a minha sogra me ver sem fazer nada, já vem me infernizar”.
Ao fim do quinto dia o seu filho lhe disse: “mãe, a senhora já arrumou a sua mala?”, “Sim, ela já está pronta.” “Então vamos, vou levá-la para casa.”
Depois da visita, a família inteira só queria sossego.
Apesar de todo o desgaste emocional e dificuldade em lidar com a sogra, Sabrina sempre se penaliza em deixá-la sozinha. Este ano ainda não está decidido se irão convidá-la novamente. Se for pelo marido, a mãe dele passará sozinha. O coração brasileiro é que sempre acaba amolecendo.
Larissa d’Avila da Costa, Gilching, novembro 2023