Martha era estudante quando foi convidada para passar o Natal na casa da família do namorado alemão.
Ela já conhecia a familia, mas nunca tinha passado esta ocasião com eles. Com certa antecedência, começou a pensar nos presentes que ofereceria a todos, já que na Alemanha não existe a tradição do amigo secreto e cada pessoa recebe uma lembrancinha de cada um.
Martha já havia ouvido os sogros comentarem que gostavam muito de presunto hibérico, e, vendo um pernil destes em promoção em um supermercado, achou que seria um bom presente para os anfitriões. Para os cunhados, cunhadas e sobrinhos fez o grande esforço de comprar algo significativo, mas que não custasse muito, já que de lembrancinha em lembrancinha, vai-se um bom dinheiro.
No dia 24, após o jantar, chegara o esperado momento da troca de presentes. A árvore de Natal natural, impecavelmente decorada, iluminada com velas, estava linda. Martha encantou-se com a decoração natalina cheia de detalhes e todos os presentes embalados lindamente dispostos debaixo da árvore. Cada pessoa da família tinha um lugar debaixo da árvore onde estavam depositados seus presentes.
Ao observar os pacotes dos outros membros da família, Martha já teve uma sensação estranha, um certo desconforto por suas embalagens não estarem tão lindamente decoradas com laços, fitas e papel especial.
O seu desconforto aumentou à medida que foi recebendo os presentes e percebendo que todos tinham sido confeccionados por quem os oferecia. Ganhou gorro e cachecol feitos a mão pelas cunhadas e sogra, geléia e biscoitos feitos pelos cunhados e crianças, presentes simples, mas de muito significado, pois as pessoas tinham tomado o seu tempo pensando nos presentes e confeccionando-os.
Em contrapartida, os seus eram todos comprados e embrulhados sem muito esmero. Sentiu-se deslocada, apesar de os familiares demonstrarem que haviam gostado dos presentes oferecidos por ela.
Passada as festividades, foi embora para casa e seu namorado ainda ficou mais uns dias na casa dos pais. Quando ele retornou, trouxe consigo o pernil hiberico que ela tinha dado de presente para os sogros.
Ela ficou imensamente surpresa e já ofendida perguntou: “os teus pais devolveram o meu presente?” “Sim, mas não porque eles não gostaram, respondeu sem jeito o namorado, é porque eles ganharam um outro do meu tio e resolveram dar este para nós.”
Devolver um presente? Isso Martha nunca tinha visto! Passar adiante com discrição é uma coisa, mas devolver para quem o ofereceu é bem diferente. Martha não sabia o que pensar. Definitivamente uma enorme diferença cultural. Há muito o que aprender em terras estrangeiras.
Larissa d’Avila da Costa, Gilching novembro 2023.