Da minha primeira viagem em família eu não me lembro, pois já nasci, praticamente, com o pé na estrada. Meu pai conta orgulhoso que, minha primeira viagem eu fiz com apenas 15 dias de vida. Viajamos de Porto Alegre, onde nasci, para Vacaria, na serra gaúcha, onde cresci. Este percurso fiz (e ainda faço) muitas vezes durante a minha vida.
Meus pais nunca tiveram preguiça de viajar com filhos pequenos. Viajamos muito durante toda nossa infância. Nossas viagens de verão eram sempre longas. O trajeto mais curto que fazíamos era de Vacaria a Itapema, Santa Catarina. Lembro-me da Caravan que meu pai tinha, um carro com um porta-malas enorme, no qual meu pai montava “uma cama” em cima das malas e ali nos acomodava, ainda em pijamas, a mim e ao meu irmão. E assim partíamos de madrugada, rumo à praia, para nossas férias de verão.
Fazíamos também viagens muito mais longas. Minha mãe tinha uma tia que morava em Campinas, SP, e vez que outra íamos de Vacaria a Campinas, eram mil quilômetros numa sentada só. E, estando em Campinas, claro que não ficávamos só ali. Esse era o ponto de partida para viagens curtas como: Ilha Bela, Poços de Caldas, Itu e para a região serrana de São Paulo.
As estradas no Brasil nos anos 80 eram muito piores do que as de hoje em dia. Os postos de combustíveis eram fechados nos finais de semana, lojas de conveniência, nem pensar, e os paradouros que ofereciam alguma refeição na beira da estrada eram escassos. Levávamos na bagagem, portanto, combustível (olha que perigo!) e muita comida. Essa era a parte que eu mais gostava das longas viagens, a “farofada”. Lembro-me muito bem da garrafa térmica azul de cinco litros que a minha mãe enchia com coca-cola para o longo percurso. Obviamente a garrafa não mantinha a bebida fria por muito tempo. Lá pelas tantas a coca-cola estava quente e sem gás. Parávamos para descansar e fazer nosso piquenique com sanduíches, salgadinhos “baconzitos” e coca-cola quente. Esse era o gosto das nossas aventuras.
Além das condições das estradas serem muito ruins, não havia tampouco segurança e conforto nos carros. Viajámos sem cinto de segurança, ar-condicionado ou aparelhos eletrônicos para distrair. mas nada disso era empecilho para os meus pais atravessarem os estados de Santa Catarina, Paraná para irmos a São Paulo, Rio de Janeiro ou Foz do Iguaçu.
Íamos cantando, lendo livros ou gibis, eu e meu irmão com as cabeças entre os bancos dianteiros, felizes da vida por estarmos com o pé na estrada.
Foi assim que me criei, viajando sempre com a minha família. Isso marcou tanto minha vida, que até hoje eu amo viajar. Por sorte as condições melhoraram!
Larissa d’Avila da Costa, Dresden, maio de 2013
Artigo publicado no blog: brasileiros mundo afora
Minha primeira viagem em família – Viajando pelo Brasil dos anos 80 – por Larissa d’Avila da Costa