Menor de idade viajando sozinho na Europa

Meu filho ainda não completou 12 anos e já viajou sozinho três vezes sem a companhia minha ou do meu marido: duas vezes na Alemanha e uma vez na Europa.

A primeira vez foi pouco antes de completar 11 anos. Ele e minha filha foram sozinhos de trem de Munique a Hannover passar as férias com os avós paternos. Foram de trem, 4 horas de trajeto, sem baldeação. Eles estavam munidos de todos os aparatos eletrônicos possíveis, com celular para a comunicação e tablets para diversão.

Mandamos um documento escrito em casa os autorizando a viajar sozinhos, mas ninguém pediu nada a eles, nem a autorização de viagem nem documento de identificação. Chegando em Hannover, os avós os estavam esperando na plataforma onde parava o seu trem. Na volta de Hannover, também vieram sozinhos, o mesmo procedimento, nenhum controle de documentos, somente a verificação das passagens.

A segunda viagem dele foi através da escola, com um grupo de 4 colegas da turma e dois professores para um campeonato de matemática em Budapeste, na Hungria. Dessa vez foram acompanhados de adultos e a viagem foi organizada pela escola, desde a compra das passagens de trem, até a reserva do hotel e a programação para o final de semana. Os professores que os acompanharam não eram da turma deles, e sim docentes da escola, os quais não conhecíamos. Eles foram numa sexta-feira e voltaram no domingo no final do dia.

Mesmo sendo uma viagem dentro da União Europeia (atravessaram duas fronteiras), ainda assim não foi necessário nenhum tipo de autorização para eles viajarem desacompanhados dos pais e nem sequer pediram documentos de identificação durante todo o trajeto de ida e volta.

A mais recente viagem dele faltando um mês para completar 12 anos é uma excursão de três dias com toda a turma para um albergue da juventude numa cidadezinha a 150 km de onde moramos. Dessa vez a viagem foi de ônibus com toda a turma, acompanhados de dois professores e três jovens de séries mais avançadas. Esse tipo de excursão escolar é normal na Alemanha e é oferecida a todos os jovens a partir da 6ª série como parte do currículo escolar para incentivar a independização da criança.

Como eu encaro tudo isso? Bem, se eu não estivesse de acordo, não o teria mandado de trem com a irmã para Hannover há um ano. Soltar o filho não é uma tarefa fácil, mas é necessária. Exige confiança e maturidade dos pais e filhos. Exige confiar na educação e nos valores que você ensina a ele. Exige confrontar-se com o fato de que seu filho nasceu para o mundo e que seu papel é orientá-lo para lidar com as adversidades e para que saiba ponderar as escolhas.

O que eu acho estranho e, infelizmente não tenho uma explicação baseada na lei para acrescentar, é que menores de idade possam viajar totalmente desacompanhados ou sem nenhum tipo de autorização para viajar acompanhados de terceiros dentro da União Europeia. Um fato que me deixa intrigada é que eu não sei como a polícia lida com o rapto e tráfico de menores.

Voltando ao ponto de vista pessoal, eu sou da opinião que devemos dar chances aos nossos filhos de aprender com suas próprias experiências e confiar que eles são capazes de enfrentar e solucionar situações que lhe são desafiadoras ou adversas. É muito gratificante vê-los orgulhosos em ter superado situações novas e a satisfação de acompanhar essa jornada tão linda que é o crescimento e amadurecimento de um ser humano.

Larissa d’Avila da Costa, Gilching outubro de 2022.