Caros leitores, a partir de hoje, vou escrever uma série de posts sobre a saga da que, espero eu, seja minha última e definitiva mudança dentro da Alemanha. Desde que estou em terras germânicas (2002), já me mudei seis vezes de cidade, as duas últimas com crianças pequenas.
Dessa vez a mudança não será tão drástica, vamos nos mudar para uma outra casa na mesma cidade onde moramos, para a nossa própria. Por isso a saga nessa ocasião será dupla: mudança e reforma da casa nova.
E para quem ainda acha que morar na Europa é chique, lamento decepcioná-lo, mas só é chique se você tem dinheiro o suficiente para bancar todos os serviços braçais que um cidadão de classe média no Brasil consegue bancar. Aqui como um mero mortal assalariado você tem que pôr a mão na massa e fazer serviços que, geralmente, no Brasil você pagaria para fazer, como a mudança.
É certo que você pode contratar um serviço de mudança que encaixote todas as suas coisas, as transporte para o novo lar, e lá monte todos os móveis e coloque tudo no lugar novamente. Claro que esse serviço existe aqui, mas custa uma fortuna, que, normalmente, você não pode (e não quer) custear.
Portanto, o jeito é você fazer tudo você mesmo, o famoso “do it yourself” e pensar nas centenas de euros que você está economizando.
Mas se você acha que encaixotar as coisas é a pior parte da história, aí eu te digo que não. A pior parte da mudança é fazer o famigerado Aussortierung, a seleção do que presta, o que não presta, o que você pode vender, doar ou jogar fora. Principalmente para quem tem criança e junta um monte de tranqueiras, livros, brinquedos, roupas, sapatos e sei lá mais o que no decorrer dos anos.
Aí, caro leitor, nessa fase, não tem que te ajude. Tem que dar um jeito de mandar o criaredo passear e colocar tudo abaixo e começar o árduo trabalho de seleção: roupas que servem, que não servem, que podem ser vendidas, que podem ser doadas ou que vão para o lixo. Sapatos, a mesma coisa. Livros: o que são lidos, os que não são lidos, pode ser que ainda leia, vender ou doar. Brinquedos: nessa parte por favor sempre longe das crianças, porque eles não querem se desfazer de nada, e o pior, se veem um brinquedo que você selecionou para ser desfeito, eles vão lá e começam a brincar de novo com o negócio. Portanto, dica: brinquedos selecionados para serem desfeitos, colocar num lugar inacessível para as crianças, se não, depois de uns dias você terá o dito cujo novamente entre as coisas para serem levadas!
Pois muito bem, seleção feita, aquelas pilhas de objetos selecionados e começa a segunda parte da “saga seleção”: o meio de se desfazer da coisa.
Pensa que é fácil? Se você resolve vender: em que canal vender? Site de objetos usados, app, grupo de amigas, grupo de whatsapp para venda e troca de coisas de segunda mão ou loja de segunda mão? Pode ser que você consiga ganhar um dinheirinho com a venda das roupas / sapatos / brinquedos / livros, mas isso tudo toma tempo, pois você tem o trabalho de ficar respondendo as mensagens, ter tempo disponível para encontrar com o comprador ou enviar a mercadoria pelo correio.
Vai doar? Para quem doar? Para amigas, para uma instituição? Tem que arrumar tempo para encontrar com a amiga ou despachar pelo correio. Envio pelo correio? Tem que ir atrás de caixa, colocar tudo dentro, etiquetar e levar até o correio.
Aí, beleza, você conseguiu se desfazer das coisas prestáveis, e sobrou aquelas que vão para o lixo. Prepare-se porque a saga NÃO acabou!
Pensa que jogar lixo fora na Alemanha é simples? Pois não é, você tem que se dar ao trabalho de separar tudinho para descartar no lixão.
Lixão na Alemanha não é um lugar sujo onde você simplesmente joga tudo o que você não quer num monte enorme! Não senhor, aqui é um lugar limpo, com funcionários uniformizados que controlam o que você está levando e te orientam em qual container você deve depositar os objetos. Abaixo uma foto de um Wertstoffhof na Alemanha.
Tem container específico para tudo: móveis, aparelhos domésticos (geladeira, TV, fogão), material de construção, metal (diferenciando ferro, alumínio, pintado ou não), isopor (separados ainda em blocos / placas e bolinhas / formatos menores), CDs DVDs e Blueray (separados das caixinhas, que vão no lixo doméstico de casa), eletrônicos (computador, brinquedos eletrônicos SEM pilha ou bateria), pilhas e baterias, papelão (papel eles não aceitam, porque esse você tem que jogar na lixeira de papel disponível na sua casa), cabos em geral, cerâmica, materiais tóxicos como tinta, esmalte e coisas gerais que não cabem na lixeira de casa, como vasos grandes de plástico.
Portanto, grande parte do tempo da organização da mudança é tomado pela seleção e descarte das coisas que você não precisa mais.
E assim começa a saga da mudança, a fase na qual eu me encontro agora: separando e selecionando objetos, roupas, calçados que possam ser reaproveitados ou não.
Sigamos em frente, tem muito trabalho pela frente. A saga apenas começou.
Larissa d’Avila da Costa, Gilching agosto 2019.