Continuando a saga, capítulo II: enquanto eu me ocupo em descartar objetos que não precisamos mais, o marido dá andamento a reforma da casa, nesse episódio, o piso novo no porão.
Sim, caro leitor, você leu bem: meu marido colocou um piso novo no porão, ele mesmo! Num lapso de loucura nossa, achamos que o piso de cerâmica no porão era muito frio e escuro e pensamos em transformar o aposento num cômodo mais bonitinho (esclarecendo: cômodo do porão é como um quarto, tem até calefação).
Pois bem, para isso fomos em um dos muitos Baumarkt, (loja gigante de material de construção) e lá escolhemos um laminado e o roda-pé para o porão. Nessas lojas geralmente você mesmo que se encarrega do transporte da mercadoria (eles oferecem serviço de entrega, mas custa à parte e o prazo de entrega é longo), portanto, quem teve que carregar os 13 pacotes de 1,80 cm de comprimento e 30 kgs até o carro e do carro para a nossa casa fomos, obviamente, eu e o meu marido.
Lá chegando, mãos à obra! Opa, problema (sim, sempre tem muitos problemas e imprevistos nas obras, mesmo que alemãs!): o roda-pé de cerâmica precisa ser retirado e não é possível fazê-lo à marteladas, pois está muito grudado na parede! O que fazer? Alugar uma máquina própria para isso! Alugar? Sim, aqui há lojas especializadas em alugar todo o tipo de máquina imaginável para uma obra! TODO O TIPO, até coisas que você, como brasileiro que nunca meteu a mão na massa, sabe que existe, como essa que o meu marido alugou: uma mini-britadeira! (essa loja oferece 15 tipos variados de britadeiras) https://www.boels.de/
Aliás, observação de vocabulário em alemão: uma mini-britadeira, o nome em alemão já não é mais “britadeira – Presslufthammer”, pois britadeira é a que funciona com ar-comprimido e a “mini-britadeira – Stemmhammer” é elétrica, aí muda o nome.
Continuando a história, meu marido dando-se conta do problema no final de tarde de uma sexta-feira, já procurou o site da loja que aluga as ferramentas e reservou para o sábado uma mini-britadeira para dar início aos trabalhos o mais cedo possível. No sábado pela manhã, lá estava ele na porta da loja assim que ela abriu.
Mini-britadeira a postos, início da barulhada, com máscara para proteger da poeira, óculos para os olhos e protetor de ouvido: tudo nos conformes. O resultado da trabalheira foi esse da foto que abre o post.
E quem limpa a sujeira? Euzinha, claro! Varrer, colocar as cerâmicas em baldes e o que fazer com isso, advinhem? Para o famoso lixão, óbvio! Aí lá vou eu com cinco baldes de roda-pés de cerâmica para o lixão e a mini-britadeira para ser devolvida em Munique.
Chego no lixão, vem o senhorzinho inspecionar o que eu tenho para jogar fora, olha os baldes com as cerâmicas e sentencia: “isso não pode ser jogado fora desse jeito, a senhora precisa retirar o silicone que estão grudados nos pedaços de cerâmica.” CUMÉQUIÉ???? Quase tive um treco! “como é que eu vou tirar isso das peças? É impossivel!” – protestei! E ele impassível: “ou a senhora tira, ou a senhora leva tudo embora novamente”. Caraco!! Diante da minha cara de desespero/decepção/raiva, ele acrescenta: “vamos, eu lhe ajudo.” E lá fui eu, carregar os baldes para a beira do container próprio, e peça por peça puxamos os silicones que estavam presos nas cerâmicas, e aí novamente separando o lixo, cerâmica no container de resto de obra e silicone no lixo de plástico.
Feito o trabalho, agradeci ao senhor pela ajuda (sim, você tem que se manter simpático) e saí em disparada para devolver a mini-britadeira na loja antes de fechar.
Cheguei na loja esbaforida, dois minutos antes de ela fechar e contei ao atendente o ocorrido no lixão. Ele me olhou como se isso não fosse nenhuma novidade e contou: “sim, é assim mesmo, tem que prestar muita atenção na separação do lixo, se não você paga uma multa.” Eu incrédula disse: “mas como fazem as construtoras que tem um volume grande de lixo, com certeza eles não separam tudo como manda o figurino” e o atendente explicou: “as construtoras tem duas possibilidades: ou elas pagam a multa para que os funcionários do lixão façam uma separação à grosso modo, ou eles dão uma bonita nota de 500€* na mão do chefe do lixão para que ele feche os olhos por uns minutos – expressão em alemão para fazer vista grossa”
O que aprendemos do segundo capítulo da saga? Que existem máquinas das quais nem sonhamos com a existência, que a separação de lixo é, no fundo, uma piada e que corrupção existe em tudo que é lugar, o que faz a diferença é se você passa impune ou não.
*500€ de propina é considerado barato em comparação com a multa, que, dependendo do volume do lixo, pode chegar a 3.500€ ( Esse foi o valor citado pelo atendente da loja no caso em que ele contou)
Larissa d’Avila da Costa, Gilching setembro 2019.