Neve na primavera

Acordo num dia 28 de abril esperando ver um sol lindo e temperatura nos dois dígitos, abro a janela e o cenário é branco. Branco de neve. Ao invés de nevar no Natal, começou a nevar na primavera. Tempos de aquecimento global e insanidade geral.

Ligo o rádio e a previsão para o feriadão não é das melhores: só no domingo vai fazer sol, segunda-feira , feriado de 1 de maio novamente chuva e frio. Acordo com as crianças alegres e entusiasmadas, mando eles se vestirem e desço bufando as escadas até o porão para pegar, pela terceira vez esse ano, as botas de neve, que, insisto em limpar e guardar para o outono.

Prontos para sair, em plena primavera: botas de neve, jaqueta, luvas, cachecol e touca. As crianças correm imediatamente para fora correndo na neve enquanto pego uma pá e começo a tirar a neve de cima do carro.

Nesse exato momento, aparece o vizinho na janela e grita alguma coisa. Não consigo ouvir o que ele diz, porque o motor do carro está ligado na tentativa de esquentar o seu interior para a família não congelar quando entrar nele. Páro o que estou fazendo, me afasto do carro, espicho o pescoço para ouvir o que o vizinho está dizendo e eis que ouço o seguinte comentário: “na, die richtige Temperatur für eine Brasilianerin” – traduzindo: e aí, temperatura ideal para uma brasileira!

Penso em mandar o vizinho para a pqp, mas resolvo ser sarcástica: “sim, estou amando essa neve!” e volto para a função.

Carro limpo, mando as crianças pararem com a guerrinha de neve e finalmente entrarem no carro. Leda ilusão, a porta traseira do carro não abre. A borracha de isolamento congelou e seja lá a reação física na p. da borracha, nesse momento eu só queria entrar no carro. Tento a porta do outro lado e nada. Puxar com força também não funciona e xingar o tempo, São Pedro e tudo o mais que ocorrer só vale pelo desabafo mental.

Eis que o vizinho, deparando-se com meu desespero, já está do outro lado da cerca oferecendo ajuda. Fico feliz por não tê-lo mandado àquele lugar. Aparece o bom cidadão com um tal de spray descongelante, do qual nem sabia da existência. Ele passa o produto nas borrachas da porta. Em vão, as portas continuam lacradas. Ele fica sem graça do insucesso da operação e me mostra um outro produto, tipo uma pasta de limpar sapato, que deve ser aplicado na borracha da porta para evitar o acúmulo de água ou sei lá o que, mas esse produto deve ser aplicado antes de nevar, portanto, vale a dica, mas continuo com meu problema.

Sem conseguir abrir as portas traseiras, não resta outra saída a não ser mandar as crianças entrarem pela frente e pularem para trás. Para isso acontecer, tem que tirar as botas, que a essas alturas já estão encharcadas. Tira as botas de um, entra, pula pra trás, tira as botas do outro, entra, e pula para trás. Aí eu tenho que ficar me dependurando do banco da frente para conseguir colocar o cinto de segurança nas criaturas.

Enfim, partimos em direção a escolinha. O tempo urge, estamos, naturalmente, atrasados. Chegando na escolinha, procedimento de colocar as botas antes de descer, crianças saindo enlouquecidas e pisando, claro, em todas as poças que encontram pelo caminho.

Depois disso, posto uma foto no facebook da paisagem branca e o povo comenta: “que lindo!” PQP#:-/:-&M!P!! Lindo é um dia de sol e 20 graus!

Larissa d’Avila da Costa, Gilching abril 2017