Se você é um daqueles que vai ao médico pensando que vai no psicólogo e também já aproveita para botar a conversa em dia, irá se dar mal com os médicos alemães. Aqui as consultas são pragmáticas, rápidas e sem corécohé.
Os médicos alemães não estão dispostos a ouvir aquilo que não se trata do motivo da consulta. Vão direto ao assunto e depois tchau e benção.
A primeira vez que consultei com um ginecologista na Alemanha fiquei chocada: esperei quase uma hora para ser atendida e a médica me examinou em 5 minutos, depois de 7 minutos já estava fora da sala de consulta. O meu ginecologista atual é mais paciente, sempre fala um pouco de amenidades, pergunta sobre a vida pessoal. O engraçado é que antes de engravidar, fazia somente as consultas de rotina, a cada seis meses, e o médico, não lembrando exatamente quem eu era, o que fazia e tal, perguntava sempre as mesmas coisas a cada consulta.
O procedimento era sempre o mesmo: eu entrava na sala, sentava na frente da mesa dele, ele perguntava se eu tinha alguma dor ou estava tudo em ordem. Se estava tudo certo, ele falava um pouco de amenidades, tipo futebol ou o tempo. Aí quando eu me levantava para ir a salinha para tirar a roupa ele sempre dizia: “a senhora é muito alta. Quanto a senhora mede?”. Depois ele perguntava se o meu marido também é tão alto quanto eu e o que ele fazia. Acabando a consulta ele perguntava o que eu ainda iria fazer depois de sair dali. E era sempre assim, até eu engravidar e consultar com mais frequencia, só então ele conseguiu memorizar que o meu marido é engenheiro e torce para o mesmo time que ele. A única pergunta que permaneceu durante toda a gravidez foi: “da Costa, escreve junto ou separado?” fatídica‼
A consulta no meu atual ginecologista com “toda” essa conversa dura, em média, 15 minutos. É, definitivamente, a mais longa dos especialistas.
Pragmático mesmo é o traumato. Já consultei com uns 3 e todos tem o mesmo procedimento: você já diz para a secretária qual é o seu problema e onde dói, ela escreve na sua ficha, ou no computador, e na hora que você entra para a consulta, o traumato já está sabendo do problema e nem pergunta mais nada. Examina o paciente direto, sem fazer perguntas, dá o diagnóstico, passa a receita, estica a mão e Tschüß! Tchau! Tempo médio da consulta: 5minutos, se o problema não for muito grave. Mas resolve o problema.
Entretanto, o que me choca mesmo hoje em dia é o pediatra. Os pediatras aqui são sempre lotados, e, para variar, não tem tempo a perder. Mesmo com a falta de tempo, você espera de um pediatra que ele seja paciente, que converse, dê elogios a criança e faça gracinhas. Esqueça. Ele vai tratar o seu filho da mesma maneira que o traumato. Ao ser recebido pela secretária, você já será indagado do problema do seu filho e o porquê da consulta. Depois a assistente do pediatra fará você passar a sala, pedirá para você despir a criança, de modo que quando o médico entre para a consulta, realmente só examine o pequeno, dê o diagnóstico e o remédio e tschüß novamente. Sem dó nem piedade., sem elogios, sem falar gracinhas, nem puxar conversa.
Apesar da rapidez das consultas e da pragmatismo dos médicos, não há que queixar-se da eficiência. Considerando que essas experiências são com o sistema de saúde público, e que você já sai com os exames feitos na mão, como ecografias, raios-x, exame de sangue, e, que, todo o medicamento e exames para crianças são gratuítos, dá para se conformar com a rapidez das consultas.
Larissa d’Avila da Costa, Mannheim 2011