Lembrancinhas de Nikolaus - foto arquivo particular da autora

O causo da sacola do Nikolaus

Dando continuidade às tradições natalinas na Alemanha, temos o incompreensível dia de São Nicolau, dia 6 de dezembro.

Não sei de onde vem esse santo nem porque se presenteia (tradicionalmente) nessa data bergamotas e algum tipo de noz, o fato é que além, do Adventskalender e do dia efetivo do Natal, ainda tem o Nikolaus, ou seja, mais um dia para as crianças (e adultos também) ganharem presente no mês de dezembro.

E como se não bastasse ganhar lembrancinha em casa, e, eventualmente dos avós, as crianças recebem ainda na escola, ou no Kindergarten e até mesmo no Hort (recreação após a escola) a tal lembrancinha de São Nicolau.

Pois bem, o causo desse ano em relação a essa data é o seguinte: no início do ano letivo, eu fui eleita pelos pais dos alunos da turma da minha filha, conselheira de pais, ou seja, a pessoa que ajuda a professora em tarefas como organizar festinhas de despedida, comprar chocolates para a Páscoa e, como não poderia deixar de ser: a lembrancinha do dia de São Nicolau, que consiste num saquinho de estopa com bergamota, nozes e chocolate.

A primeira função da tarefa é conseguir os tais saquinhos de estopa, um para cada aluno. Se os conselheiros de pais são organizados, esses saquinhos são comprados com o dinheiro da caixinha no primeiro ano do primário, logo após a data são devolvidos para serem usados nos anos seguintes. Mas como a turma da minha filha não é organizada, não havia saquinhos do ano anterior suficiente, e tive que comprar.

Consegui os tais saquinhos de estopa, pedi para uma amiga fazer uma estrela bonita para dependurar na cordinha com o nome de cada criança, comprei o material necessário para enchê-los e ontem passei uma hora e meia colocando nome nas estrelas e enchendo os saquinhos. Coloquei-os prontos numa sacola de supermercado, e hoje de manhã levei a sacola para escola.

Chegando na sala dos professores, local combinado com a professora para deixar a encomenda, deparei-me com os outros sacos de Nicolau que já estavam lá, feitos por outras mães, para outras turmas. Eram sacos grandes de estopa, decorados com alguma figura natalina, com uma seta de cartolina igualmente decorada onde havia a indicação da turma.

E eu com a minha singela sacola de supermercado com uma folha de ofício onde estava escrito a turma a quem pertencia aquela sacola. Já senti a pressão da missão, mas olhei no final da sala e vi uma outra sacola de compras e pensei aliviada: “ufa, pelo menos não sou só eu que entrego as lembrancinhas numa sacola, e não em um saco de Nicolaus. Mas, enfim, são só crianças, com certeza nem vão notar”.

Eis que quando eu busco a minha filha na saída da escola, e pergunto a ela como foi a recepção do Nicolau  ela responde: “foi bom. Ele só bateu na porta e deixou a sacola. Aliás, mamãe, uma sacola bem esquisita, de supermercado, bem colorida, parecia de verão, não tinha nada a ver com o saco do Nicolau.”

E eu não acreditando no que estava ouvindo reagi: “Como assim vocês perceberam a sacola onde estavam as lembrancinhas?”
“Claro que sim, todas as crianças notaram. Uma delas logo disse: “Diese Tüte sieht aber komisch aus!” – essa sacola está bem esquisita”
“Mas por que vocês notam isso? O importante é o que está dentro da sacola!”
“Tudo bem, mamãe, da próxima vez você já sabe.”

É mole minha gente? Eu me esforço para entrar nas tradições natalinas dessa terra e as crianças me vem com um detalhe desses? É muito detalhe para uma pessoa só.  E, definitivamente, a tradição de Nikolaus é um tanto quanto exagerada.

Larissa d’Avila da Costa, Gilching dezembro 2021