Os alemães tem muitas esquisitices às quais temos que nos adaptar ou aceitar. Mesmo depois de 12 anos em terras germanicas, ainda me surpreendo com algumas atitudes, nem sempre justificáveis ou passíveis de entendimento pelos proprios alemães. O “causo” que me aconteceu essa semana foi o seguinte.
A familia do meu marido é bem pequena. O pai dele é filho único e a mãe tem só uma irmã, a qual não tem filhos. A tia é casada, o marido tem filhos do primeiro casamento, mas ela não teve. Primos da mãe e do pai, tios avós, não são mais considerados familia dele, e sim dos pais dele e acaba por aí. Segundo o raciocínio familiar do meu marido alemão, pertencentes à familia são: os avós, os tios, primos de primeiro grau (que ele nao tem), irmãos, sobrinhos, e claro, filhos. Tios-avós e seus descentendes não são mais seus parentes, e sim, dos pais. Já daí começa a esquisitice, mas enfim, o “causo” piora.
Meu marido, portanto, tem uma única tia, que, por sua vez, tem como familia somente a sua irmã e seus tres sobrinhos. A tal da tia vai completar 60 anos no final de agosto e dar uma festa. Aqui os aniversários “redondos”, como eles chamam, 30, 40, 50 anos, são comemorados com uma festa bem grande.
Até agora (junho) estranhamos não receber o convite para a festa e hoje veio o fatidico e-mail dizendo basicamente o seguinte:
“muito obrigada pelas lindas fotos dos seus filhos, eles estão realmente muito grandes e uma graça.
Muito obrigada também pelo convite para o batizado da Rafaela, mas infelizmente não poderemos comparecer, pois já havíamos marcado nossas férias com um grupo de amigos e, na data do batizado, estaremos na Áustria. Como não vai ser possível nos vermos nessa ocasião, pensamos em visitar voces em outubro ou novembro. Aí teríamos mais tempo para curtir voces e as crianças, num final de semana a sós com voces.
Com esse intuito, comecei a planejar a minha festa de aniversário e fazer a lista de convidados. Já que nos veremos em outra ocasião, imaginei que, para voces e as crianças, seria muito tumulto/trabalhoso vir a minha festa, por isso acho melhor deixar para nos vermos num outro momento.
Novamente muito obrigada pelo convite e a gente se fala até setembro”
Eu li isso e pensei: heeeeeeinnnnnnnnn???? Cuuuumaaa??? Isso que é um belo „desconvite“! Na lata: olha, acho melhor voces não virem na minha festa, vai ser muito tumulto para as crianças! Ou seja, ela tomou a decisão por nós, de achar que seria muito trabalhoso nos deslocarmos até a cidade onde ela mora para ir a festa.
Mas não se apavorem, esse é um caso isolado. O meu marido também ficou chocado com o comportamento da tia, e todos os alemães, para os quais eu contei a história, também.
A única coisa é que, mesmo depois de doze anos nessa terra, ainda tenho surpresas desagradáveis desse tipo. Acho que essas esquisitices nunca terão fim. Ainda bem que já estou “alemanizada” o suficiente para não ficar magoada com a situação e aceitá-la, já que entender é impossível!
Larissa d’Avila da Costa – Dresden, junho 2014.
[…] o aniversário de 60 anos da tia do meu marido, como já escrevi na crônica „o desconvite“( https://www.brasanha.de/o-desconvite/), mas ser desconvidado para um enterro é bizarro demais. Primeiro porque você vai a um velório […]