Pães e padarias

Se você perguntar a um alemão que mora no exterior, o que ele mais sente falta da sua pátria, ele com certeza NÃO vai dizer “da família” em primeiro lugar. Vai dizer “do pão”. Sim, ele sentirá mais falta do pão do que da família. Mas o que faz o pão aqui ser tão diferente?

A Alemanha tem uma longa história de amor e tradição ao pão que vêm desde antes da época do Cristianismo. Há, aqui, mais de 300 tipos diferentes de pães. Os pãezinhos fazem parte de uma outra categoria que conta com mais de 1200 tipos diferentes em toda a Alemanha. Os pães, na  Alemanha, variam de acordo com a região, mas o que caracteriza esse tão adorado alimento é o centeio. Em cada dois terços dos pães alemães está o centeio como um dos ingredientes principais. A massa também é enriquecida com: aveia, cevada, variados tipos de nozes, temperos e grãos por exemplo semente de girassol e de abóbora. Aqui é o país do pão integral.

O pão e os pãezinhos variam de receita conforme a região, no sudoeste da Alemanha, mais perto da França, terra dos pães brancos, os pães são mais claros por levarem mais farinha de trigo. Além disso, eles também têm nomes diferentes em cada região. Até aí não há de causar estranheza, se tomarmos como exemplo no Brasil os gaúchos, que chamam o pãozinho francês de “cacetinho” e não são compreendidos pelo resto do povo brasileiro. O problema é você, como turista, entrar numa padaria alemã, querer experimentar essa especialidade e não falar uma palavra em alemão. 

Diz um artigo na internet sobre pães que isso seria facilmente resolvido, basta apenas apontar com o dedo o que se deseja. Parece fácil, mas devemos contar com o bom humor da balconista, que geralmente está sozinha no balcão, muito atarefada, com muita gente para atender e não quer perder tempo com alguém que não sabe o que pedir e nem por onde começar.

Então, o pobre turista brasileiro, que nunca viu tantos tipos diferentes de pão integral, vai até a padaria e fica primeiro olhando a vitrine do lado de fora, tentando se decidir antes de entrar na fila, pois quando chegar a sua vez de fazer o pedido, ele já deve saber o que vai apontar para que não corra o risco de ver a cara mal-humorada da atendente.

Chega a sua vez e a balconista diz com uma voz grave:

– Bitte schön.

E o brasileiro já intimidado:

– …… hello…. –  dá um sorriso amarelo e aponta para o pão que escolheu.

– Ja. Das hier? – pergunta a balconista franzindo a testa.

– No, no…. nein… – diz o brasileiro tentando se esforçar no seu alemão e aponta o pão mais à esquerda.

– Das? – aponta a balconista para um outro pão, já com um tom de voz mais elevado e olhando diretamente para o brasileiro.

Atrás dele um cliente já com o dinheiro na mão bufa baixinho, uma criança chora e a balconista lhe dá um olhar fulminante.

– Ok, ok… – diz o brasileiro constrangido, levantando o polegar em sinal de positivo.

– Das war’s? Pergunta a balconista.

O brasileiro a olha com uma cara de interrogação e sem entender nada faz que sim com a cabeça e novamente o sinal de positivo.

Ela rapidamente lhe diz o preço e espera pelo pagamento. Ele não entende o que ela lhe disse e olha na máquina registradora, conta o dinheiro, paga e sai.

Do lado de fora da padaria diz para a sua esposa:

– Ainda não era bem esse que eu queria, mas não tem importância,  amanhã tentamos de novo.

Por isso, se você quiser experimentar os diversos e saborosos tipos de pães na Alemanha, sugiro que vá numa padaria self-service. Lá, pelo menos, você não precisa falar com ninguém.

Inspirado na experiência de Décio e Maria Olívia.

Larissa d’Ávila da Costa, Dresden maio de 2007