Essa é a expressão que mais escuto de brasileiros quando os pergunto se querem tomar, por exemplo, café. Pode ser. Ou então: só se voce tomar. Ou: eu tomo o que voce tomar? Gente, o que é isso? Porque somos tão cerimoniosos? Porque não podemos responder as perguntas diretamente?
Esse tipo de resposta confunde muito os alemães. Eles não captam a mensagem com uma afirmação dessas, que, na verdade, não quer dizer nada mesmo, pois não responde a pergunta nem dá informação nenhuma.
Com o “pode ser” a pessoa que perguntou não sabe se, o que foi oferecido é bom ou ruim. Uma resposta dessas pode ser interpretada de várias maneiras: – Você quer café? – Na verdade não, mas na falta de outra coisa pode ser. Ou: –Você quer café? – Pode ser que sim, pode ser que não, estou na dúvida. Ou: – Voce quer café? – Pode ser outra coisa? (o “outra coisa” fica subentendido porque o interlocutor não teve coragem de seguir com a frase)
A situação piora quando a resposta é “só se você tomar, eu não quero dar trabalho”. Essa resposta definitivamente não expressa a vontade da pessoa, pois a pergunta é direta e não admitiria formação de hipóteses. Se uma pessoa te oferece um café, é porque ela está disposta a faze-lo, ela vai se alegrar se voce aceitar. Ou voce quer, ou voce não quer.
E essa então: – Eu tomo o que voce tomar. – Eu vou tomar coca-cola quente e sem gás, adoro!! Ralou-se!!
Os alemães não entendem esse tipo de resposta. Se eles te oferecem alguma coisa, eles esperam que voce aceite ou não aceite o que foi oferecido. Se voce não aceitar, ele vai te oferecer outra coisa e se você continuar a fazer cerimônia, ele não vai te oferecer mais nada durante um bom tempo. Não ficará insistindo como nós: – ahhh… mas só um cafezinho.. – mas não é trabalho nenhum, não quer mesmo?. Eles tem mais ou menos pensamento de catarino manezinho da ilha: “quéx quéx, não quéx diz”. Alias, meu ex-chefe, catarinense, descendente de alemães, sempre dizia: “alemão é um portugues inteligente que deu certo.”
E eu, que já estou alemanizada, noto somente agora que nós, brasileiros, somos mesmo muito cerimoniosos e nada, objetivos nas nossas respostas. Sofro com isso. Muito!
Larissa d’Avila da Costa, Dresden, abril 2013