No final de semana passado tive a imensa oportunidade em participar do II Simpósio Europeu sobre o Ensino de Português como Língua de Herança. Nome grande para discutir o ensino do português no exterior para filhos de falantes da língua portuguesa. Métodos, material didático, educação bilingue, instituições, grupos e pessoas que estão mundo afora dedicados a essa missão.
O que me chamou a atenção no primeiro dia do evento foi o baixo número de portugueses participantes do simpósio e um dado assustador trazido pela Cônsul Geral do Brasil em Munique, a Sra. Carmen Lídia Richter Ribeiro Moura: apesar do português estar entre as 10 línguas mais faladas no mundo, não há um instituto do idioma único e representativo para o ensino no exterior como o Goethe Institut para o alemão, o Instituto Cervantes para o espanhol, a Alliance Française para o francês.
Comentando o fato do baixo número de portugueses participantes do simpósio com o meu marido à noite, ele fez a seguinte consideração: “isso se deve ao fato de que vocês, brasileiros, terem um enorme sentido de viver em comunidade. Vocês sentem falta de estar em comunidade, junto aos seus, partilhar seus sentimentos, enquanto que nós europeus, não conhecemos isso. Para nós a familia e o pequeno circulo de amigos já nos basta. Talvez por isso voces sejam mais unidos e mais engajados, no que tange ao ensino do portugues aos filhos e a identificação cultural, que os portugueses.
E é isso mesmo, nós gostamos e precisamos conviver com os nossos compatriotas. Precisamos formar no exterior a familia que deixamos no Brasil, precisamos nos identificar, conversar, desabafar, dançar, comer nossa comida, comemorar nossas festas.
E é por isso que tantas mães como eu formam grupos de pais brasileiros para ensinar aos seus filhos o português, para despertar o afeto pelo nosso país e nossa cultura, para que possam se comunicar com nossa familia e amigos que ficaram no Brasil.
Mulheres que vivem no exterior e pesquisam métodos para ensinar português, discutem sobre a educação e alfabetização bilingue, estudam sobre a imigração brasileira, tornam-se mães e fundam grupos de pais, creches, escolas, para que nossos filhos possam aprender nosso idioma, conhecer nosso país, e, quem sabe um dia, fazerem o caminho reverso ao nosso e voltar para a pátria amada e tornar o nosso Brasil melhor.
Parabéns a todas as mulheres de garra que se engajam nesse árduo e longo caminho que é a conscientização de pais brasileiros para a educação bilingue dos seus filhos, que doam seu tempo e dinheiro para esse fim, que pedem ajuda de amigos, colaboradores, que trazem malas com livros do Brasil para formarem no exterior bibliotecas para os brasileirinhos, que não esperam e nem contam com ajuda financeira de instituições governamentais, que estão aí, pelo mundo afora plantando a semente no coração das nossas crianças para se tornarem cidadãos respeitosos às culturas diferentes.
Ainda há muito o que se fazer, um longo caminho a percorrer. Tudo ainda é muito novo, esse foi somente o segundo simpósio sobre o tema. Mas a semente foi plantada, está crescendo e certamente no próximo encontro trará novos frutos.
Parabéns novamente às seguintes guerreiras que apresentaram seus projetos no simpósio:
Andréa Menescal, Mala de Leitura de Munique, Alemanha
Camila Lira, Linguarte, Alemanha
Crianças Brasileiras Bilingues de Dresden, Andrea Lang, Alemanha
Kenya Gonçalves Silva e Rita Dorneles, ABRIR, Inglaterra
Clarissa de Sousa Oliveira, AMBI, Irlanda
Juliane Rüdisser, Mala de Leitura em Tirol, Áustria
Raquel do Nascimento, Associação Brasileirinhos_DK, Dinamarca
Ana Luiza de Souza, Casa do Brasil em Florença, Itália
Maria Helena Berglez, Projeto Sementeira, Eslovenia
Maria de Lurdes Santos Gonçalves, CEPE, Suiça
Miriam Müller Vizentini e Arlete Baumann, ABEC, Suiça
Magaly Quadros, Hora do Conto Dubai, Emirados Arabes
Juliana Azevedo Gomes, APBC, Espanha
Jaqueline Menezes, Brasileirinhos em Amsterdã, Holanda
Visite: www.eloeuropeu.org
Larissa d’Avila da Costa, Gilching, outubro 2015
Olá Larissa. Espero que esteja tudo a correr bem na nova cidade?! Relativamente ao seu post permita-me discordar do seu marido, uma vez que nós portugueses somos sim europeus mas com alma latina e portanto tal como os brasileiros adoramos conviver e comunicar, ao ponto de quando ouvimos algum português a falar na rua abre-se um sorriso na cara e no coração só por ouvir a nossa língua… Em relação à baixa adesão por parte dos portugueses pode dever-se a alguma situações entre elas: os portugueses não consideram o português língua de herança mas sim língua mãe (mesmo sendo já a segunda geração a nascer no estrangeiro dizem sempre que são portugueses) e como tal maioritariamente falam português em casa (mesmo tendo conjuge ou parceiro estrangeiro), a dificuldade que um brasileiro tem de arranjar material didático português para nós não é significativo uma vez que vamos 2 a 3 vezes senão mais a Portugal ao ano e podemos adquirir quando bem entendermos. Outra coisa que é importante referir que se calhar você não tem conhecimento (possivelmente vice-versa) é que o português sente que é incompreendido pelo brasileiro línguisticamente, falamos a mesma língua e no entanto quando se juntam ou o português fala „abrasileirado“ ou o brasileiro esforça-se para entender o nosso português, quando isto não acontece geralmente o brasileiro passa a conversa a dizer „oi? Não entendi“ kk. A nossa escrita é também bem diferente, fomos forçados a aceitar uma escrita nova igual à do português do Brasil com o novo acordo ortográfico da língua lusófona o que causou bastante desconforto e críticas em Portugal e consequentemente ao „português do Brasil“ uma vez que a palestra é ministrada por brasileiros estes podem ser alguns factores determinantes na comparência ou não por parte dos portugueses!! Mas isto é só a minha opinião. Em todo o caso espero que para o próximo ano a palestra seja um sucesso com mega adesão dos dois povos irmãos. Beijo desde Dresden
Olá Patricia, muito obrigada pela tua opinao. É muito bom saber o que os portugues pensam sobre o assunto, pois afinal, concordo contigo, falamos todos portugues e estamos juntos nessa luta de ensinar nosso idioma nao só aos nossos filhos e sim a todos aqueles que queiram aprenda-la. A consideracao do meu marido foi só uma hipótese, já que eu nao tinha para quem perguntar, resolvi colocar a questao para saber o que as pessoas pensam sobre o assunto. Também acho que os portugueses sao muito mais afetivos que os alemaes. Talvez a colocacao do meu marido esteja mesmo erronea. De qualquer forma, é muito bom saber que há uma organizacao em prol do ensino do portugues mundo afora, nao achas?
Aliás, Patricia, já que comecamos a discussao, porque tu achas que os portugueses nao se empenham em formar associacoes de pais no estrangeiro para ensinar portugues aos filhos? Será que é pela proximidade na Europa e a facilidade que os portugueses tem de ir com mais frequencia a pátria mae, nao veem a necessidade de criar uma associacao de pais para o ensino do idioma fora de casa? Ou tu achas que os portugueses creem que o idioma falado em casa e com os compatriotas já basta para o aprendizado do portugues? Tu achas que os portugueses em geral se sentem inibidos a participar de eventos como esse simpósio porque tem que se adaptar ao „portugues abrasileirado“? Essa seria um ótimo ponto para discussao no proximo simpósio.