Quando o gaúcho diz fiasquento!

Quando um brasileiro mora no exterior acaba conhecendo muitos brasileiros de outros lugares do país e se depara com os diferentes costumes, comidas, e expressões idiomáticas da nossa rica cultura. Um gaúcho recém-saído dos pagos, fica impressionado quando, no primeiro “oi, tudo bem”, o interlocutor logo diz “você é gaúcho, né?” e o gaúcho reage surpreso “ baaaahhh… como é que tu adivinhou? Eu achei que nem tinha sotaque!”

O sotaque é uma característica, que lamentavelmente, quando se vive muitos anos no exterior, perdemos ao longo do tempo. A pouca convivência com os seus, a influência do outro idioma, e, principalmente a convivência com outros conterrâneos, faz com que nós adaptemos o nosso vocabulário regional para que sejamos melhores compreendidos pelos demais conterrâneos.

Eu, por exemplo, já perdi muito do meu sotaque gaúcho. Infelizmente já substituí o “capaaazzzz??” pelo “séééério?”, o “ baaahhhh” pelo “nossa ou afffeee”, o “tri legal” por “muito legal”, mas tem uma expressão, que não tem como trocar, essa, realmente não dá, é o nosso “fiasquento”!

É porque a palavra fiasco e seu adjetivo “fiasquento” é muito particular e descreve muitas situações que até hoje não achei nenhuma outra palavra que eu possa usar para substitui-la sem que perca a precisão da descrição ou a ironia da situação.

Para quem não sabe o que significa fiasco ou fiasquento no gauchês, aqui alguns exemplos:

Passar fiasco, é passar vergonha, mais do que isso, é passar vexame, um pouco pior que somente vergonha. Como por exemplo, ir mal arrumada a uma festa chique ou arrumar briga ou confusão num lugar público.

Agora, o adjetivo “fiasquento” pode ser usado para descrever uma pessoa em várias situações, como, uma pessoa que faz drama à toa. A minha filha, por exemplo, reclama muito quando eu penteio os cabelos dela porque diz que dói. Caso típico para um “deixa de ser fiasquenta, minha filha!”

Quando uma pessoa é muito medrosa ou pouco audaz, é uma pessoa fiasquenta.

Fiasquenta também é a pessoa que, no sentido original da palavra, faz fiasco, ou seja, provoca uma situação vergonhosa, como beber muito numa festa e dar escândalo, xingar outras pessoas em público.

Essa expressão é o meu legado aos meus amigos brasileiros que conheci ou vou conhecendo nesses longos anos de vida no exterior, sejam eles paulistas ou paulistanos, fluminenses ou cariocas, baianos, mineiros, manauenses, belenenses, goianos.

E, claro, o “e daí, guria!” que é o meu último resquício de gauchismo quotidiano.

Larissa d’Avila da Costa, Gilching, julho 2019