Rotulados: carnaval, futebol e praia

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Muitos brasileiros residentes no exterior queixam-se  do rótulo que levamos mundo afora, que Brasil é só carnaval, futebol e praia. Isso me incomodava até pouco tempo atrás quando aconteceu o seguinte episódio.

Estávamos no casamento de um amigo do meu marido e fomos colocados para sentar numa mesa em que não conhecíamos ninguém. Eram cinco casais, todos alemães, só eu e uma outra estrangeira. Sentamos todos e começamos a nos apresentar, de onde conhecíamos o noivo ou a noiva, etc. encerradas as apresentações, uma das mulheres virou para mim e perguntou: de onde voce é?

Eu respondi e todos imediatamente: “do Brasil? Que legal! Como voce veio parar aqui?” e cada casal tinha alguma coisa a comentar do nosso país, um deles já tinha ido ao Brasil a negócios, o outro casal estava planejando as proximas férias e tinha pensado no Brasil como destino, o outro casal tinha um vizinho que era brasileiro e gostava muito dele, e assim o papo foi fluindo, eu contando sempre alguma coisa e eles perguntando e ouvindo com muito interesse.

Passados alguns minutos da “euforia” inicial, uma outra mulher dirigiu-se para a outra estrangeira e perguntou: “e voce, de onde é?” “da Ucrania”. Silencio geral. Ninguém tinha nada a comentar da Ucrania.  E para que não ficasse tão chato o clima, perguntei: “e faz quanto tempo que voce mora aqui?” Mas sobre o país, ninguém tinha nada a comentar ou perguntar.

Depois desse episódio comecei a pensar o seguinte: é certo que o rótulo que levamos não serve em todo mundo, nem todo mundo se interessa por futebol, nem gosta de carnaval muito menos mora na praia, mas poxa, pelo menos, todo mundo já ouviu falar do nosso país e lembra dele positivamente. Melhor isso, do que vir de um país do qual não se tem nada para comentar ou tem uma imagem negativa.

Alemanha por exemplo, a imagem que temos dos alemães é daqueles que usam aquelas calças curtas de couro e tomam cerveja naquele caneco enorme de um litro? Verdade? Óbio que não. Esse traje de calça de couro é só usado por trabalhadores rurais da região da Bavária e esse canecão de um litro voce igualmente só encontrará na Bavária. Os franceses são conhecidos por não tomarem banho, serem muito metidos e comerem queijo com fungo. Os americanos levam o rótulo de gordos, sedentários e consumistas. Certamente há muito americano que se alimenta saudavelmente e que é magro. Vai adiantar lutar ou ficar bravo para mudar a imagem? Não, isso é uma coisa que não tem como mudar. É como os outros veem a nossa cultura no geral.

Igualmente tem muita gente que se indigna quando alguém acha que no Brasil se fala espanhol ou que a capital do país é Buenos Aires. E aí, por acaso voce sabe que lingua se fala em todos os países do mundo? Sabe a capital de todos eles? Muitos vem com o argumento: ahhh, mas pelo tamanho e importancia do Brasil, todo mundo deveria saber. E aí, a Australia também é um país grande e importante e voce acha que a capital da Australia é Sydney? Errou, é Canberra, já ouviu falar? Aliás, não precisamos ir tão longe, se voce se acha assim tão sabichão, cite de cor e salteado as capitais dos estados brasileiros. Tem que parar para pensar? Eu também. Então não espere de um estrangeiro muito mais do que o seu proprio conhecimento sobre o mundo.

Esses dias estava eu com meus filhos no onibus e uma senhora muito simpatica começou a puxar conversa e elogiar os meus filhos. Muito sorridente, fui dando conversa a ela até que veio a pergunta fatídica: “de onde a senhora é, se me permite perguntar?” Eu respondi, e, ante a minha resposta, ela parou, pensou e disse:

–          Zao Paulo (com aquele sotaque típico) é uma cidade do Brasil, não é?

–          É sim, disse a ela.

–          Estou puxando da minha memória… e a senhora vem dessa cidade?

–          Não, eu venho de Porto Alegre, uma cidade mais ao sul, não muito turística.

–          Ahhnnn… (e pensou novamente) O Brasil já foi campeão do mundo, não foi?

–          Foi sim, já cinco vezes.

–          É, eu achava mesmo que já tinha ouvido alguma coisa…

E eu sorri a ela gentilmente. Vou por acaso ficar brava com a senhora por ela não saber essa informação tão importante do mundo esportivo? Claro que não, melhor mesmo é manter a simpatia e ficar orgulhoso de vir de um país, do qual, pelo menos, alguém sempre tem o que comentar.

Certamente que “nem toda brasileira é bunda”, como já diz a música de Rita Lee, e temos muito mais a oferecer que futebol, praia e carnaval, mas, depois de doze anos longe da terrinha e ouvindo sempre o mesmo tipo de comentário, resolvi deixar de ficar indignada com a ignorancia alheia, sou sempre simpática e me alegro em poder esclarecer e contar alguma coisa do meu país para aquele que se interessa.

Larissa d’Avila da Costa – Dresden, setembro 2013