Já estou há quase seis anos na Alemanha e cada vez mais tenho a certeza que nunca conhecerei todos os pormenores desse idioma tão ingrato para nós brasileiros.
Para comprovar essa hipótese, a realidade cotidiana não cansa em surpreender-me com novas situações como essa:
– Was war das? – o que foi isso, disse eu
– Ich musste gerade aufstoßen? – tive que arrotar
– Was musstest du machen? – o que você teve que fazer?
– Aufstoßen.
– Aufstoßen?
– Ja. – sim
– mmm … e como se chama o verbo para (e fiz o gesto para brindar)
– Anstoßen.
– Anstoßen?? Nossa… mas é muito parecido…
– Tja…. (expressão típica alemã que significa resignação) mas o significado é completamente diferente.
– Que difícil!! É muito fácil de trocar.
– Ha ha ha… isso seria engraçado, imagina você numa festa, levanta o copo e diz: “Lass uns aufstoßen” (vamos arrotar) ha ha ha… seria muito engraçado.
– Isso não é nada engraçado. Eu tenho a impressão que não vou aprender nunca essa m. de língua.
– Eu nunca disse que seria fácil. E tem ainda o stoßen, que significa bater contra alguma coisa. Ou pode significar também empurrar.
– Bah… aí complicou de vez…
– Ah… me lembrei de mais uma, ainda tem no futebol o Freistoß, o tiro de meta, e ainda o Strafstoß, o pênalti.
– Português é bem mais fácil.
– Mas eu te garanto que eu também vou levar muito tempo para falar bem português.
– É, porque nós só falamos em alemão.
Aí ele diz em português:
– Esse é a prrrroblema.
– Não é “a” problema, mas “o” problema.
– Ué, mas você nao disse que todos os substantivos que acabam em “a” são femininos e tem o artigo “a”.
– Tja…. mas problema é uma exceção. Se diz “o” problema.
– E depois você quer me convencer que alemão é difícil.
– Pois é…
– Melhor a gente ir dormir.
– É, melhor mesmo…
nota: a letra ß, que parece um beta, na verdade são dois esses (ss) e se pronuncia como tal
Larissa d’Avila da Costa, Mannheim, fevereiro 2008.