Quando eu cheguei na Alemanha achei a época que precede o Natal, as quatro semanas de advento, particularmente mágicas. Parecia que o ritmo das pessoas diminuía, que o frio e os dias escuros faziam as pessoas voltarem-se para si e seus familiares, cultivarem as suas tradições, parar para tomar uma xícara de chá com biscoitos com amigos.
Infelizmente, depois de 16 anos minha impressão mudou. Na época, comparei a „desaceleração alemã“ ao ritmo frenético do Brasil. Na nossa pátria, com a chegada do verão e a iminência do final do ano, tudo se acelera, enquanto que aqui, com o início do inverno, parecia que todos entravam em câmara lenta. Ledo engano.
Hoje em dia vejo, que a única coisa que muda entre as duas culturas, é que aqui ainda se preservam as tradições do advento, como guirlanda com quatro velas, para serem acesas a cada domingo antecedente ao Natal, a confecção dos biscoitos típicos dessa data, a visita as feirinhas de Natal, enquanto que no Brasil as poucas tradições que tínhamos para esse período se perderam. Quando eu era criança, na cidade onde cresci, em Vacaria, fazíamos a novena do Natal na vizinhança. Era um tempo que tomávamos para rezar, refletir e agradecer tudo o que tínhamos recebido durante o ano. Os encontros eram feitos por rodízio na casa de cada vizinho e passávamos a “santinha”, a imagem da Virgem Maria dentro de uma pequena capela, de casa em casa até completar a novena.
Apesar de os alemães ainda preservarem as tradições do advento, tenho a sensação que o fazem por obrigação, por uma resistência em manter as tradições, pois a mente e a correria da vida atual não nos permitem mais espaço para a introspecção.
A sensação de estar sempre correndo atrás do tempo, de correr somente para cumprir os milhões de compromissos impostos pela vida moderna, nos faz somente sobreviver, sem refletir realmente, se o que estamos fazendo nos agrega algum valor humano.
A troca abundante de memes e vídeos com mensagens de apoio, de compaixão, de boas energias, estão aí sendo repassadas ao léo, sem que sejam praticadas verdadeiramente. Quantas vezes não nos deparamos com um texto, pensamos: “é verdade, que lindo” e continuamos nas nossas rotinas loucas, sem aplicar aquilo que o texto prega.
Os programas de mensagens instantâneas deveriam funcionar somente para pessoas que moram realmente distantes umas das outras, em países diferentes, para facilitar a comunicação, e ser bloqueados para os habitantes do mesmo país, a fim de preservar as relações humanas.
Uma pena que as visitas, os telefonemas e os cartões foram substituídos por mensagens no smartphone. Uma pena que hajam cada vez menos pessoas dispostas a fazer alguma coisa pelo outro sem esperar nada em troca. Uma pena que não dedicamos mais tempo para as pessoas, que deixamos os compromissos cotidianos tomarem conta da nossa agenda. Pena que substituímos telefonemas por áudios e aquele encontro fica na promessa de um “marcamos para outro dia”, que nunca acontece.
O “outro dia” passa muito rápido e não nos damos conta. Ou nos damos e não queremos admitir, nem parar para pensar, ou desenfrear a loucura diária para um papo ao vivo.
Realmente uma pena, pois dessa vida nada mais deixamos do que a lembrança do que fomos.
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