Definitivamente não tem como comparar as estradas brasileiras e as alemãs. E não só as estradas, como os carros também. Aqui as estradas são infinitamente melhores e os carros mais potentes que os brasileiros. Consequência disso: a velocidade aumenta.
Um brasileiro que anda pela primeira vez nas “Autobahns” alemãs guiado por um alemão, certamente irá considerar uma loucura a velocidade com que o cidadão conduz o carro. Nas auto-pistas alemãs a velocidade mínima permitida é de 60 km/h. Um veículo que não atinja a velocidade mínima não é permitido utilizar a Autobahn. A velocidade média sugerida na auto-escola é de 130 km/h. A velocidade máxima, em alguns trechos (note-se que há limite de velocidade, somente alguns trechos é que não) é ilimitada. De modo que, se você estiver dirigindo a 140 km/h e achar que está muito rápido, seguramente será ultrapassado em menos de um minuto por vários outros carros que passarão ao seu lado zunindo.
Um primo meu que passa parte da sua vida na Alemanha conseguiu realizar uma proeza inusitada pelos alemães: vir de Berlin a Mannheim (621 km) com uma velocidade média de 100km/h. Para um alemão, uma ação completamente incompreensível. A situação se desenvolveu com o seguinte diálogo:
– E aí, Rodrigo, como foi a viagem?
– Muito trânsito, fiquei parado num congestionamento mais de duas horas.
– Quanto tempo você levou?
– 11 horas.
– 11 horas? Quer dizer, dirigindo mesmo 9 horas.
– Isso.
– Mas são uns 600km mais ou menos, a que velocidade você veio? – perguntou o Christian estupefato.
– Não passei de 100.
– 100km/h???? Nada mais que isso?? – diz o Christian incrédulo
– Sim.
– Mas isso é muito devagar! Imagino que todo mundo deve ter te ultrapassado.
– Sem dúvida. Eu era o mais lento em todo o trajeto. Todo mundo me ultrapassava, todos os carros passavam a mil, os Minis, os Smarts… fui ultrapassado até por um caminhão cegonha carregado.
– Não é possível‼ Como você pode andar a uma velocidade dessas? As estradas aqui são excelentes, não há perigo nenhum.
– Mas eu não estou acostumado, no Brasil não é permitido correr tanto. Além disso, fiquei traumatizado com uma carona que peguei com um alemão que fez um trajeto de 200km em uma hora e meia. O cara não baixava de 200km/h.
– Ha ha ha… mas 100 km por hora é muuuuuitooo devagar. Todo mundo deve ter te xingado na estrada.
– Provavelmente.
– E agora quando você desceu do carro, deve ter passado a mão na testa para tirar o suor e ter dito: “what a race! (que corrida!)”
– Ha ha ha…
– Rodrigo, “the Brazilian racer” das estradas alemãs.
Desde então quando nos referimos ao Rodrigo, não dizemos mais o seu nome, para nós ele é agora o “the racer”.
Larissa d’Ávila da Costa, Mannheim, março 2009