Esse texto é em homenagem a três mulheres que conheci há pouco mais de um ano, quando me mudei para a Bavária e fundei aqui um grupo de crianças teuto-brasileiras em prol da cultura brasileira.
Essas mulheres brasileiras moram há mais tempo na Alemanha que no Brasil. Vieram para cá muito jovens, imergiram totalmente na cultura alemã, moraram em cidades pequenas, tiveram pouco ou quase nenhum contato com brasileiros e acabaram se alemanizando.
Essas mulheres tiveram filhos, e, por estarem tão acostumadas a falar alemão, acabaram por escolher esse idioma de comunicação com os filhos. Falta de orientação sobre a educação bilíngue, comodidade, pressão da família alemã e da sociedade, os motivos não importam, o fato é que essas mulheres se sentem muito integradas na sociedade alemã, sentem-se seguras em se expressar num idioma estrangeiro e a falta de contato com brasileiros e a raridade das viagens à terra natal fizeram com que continuassem a seguir com essa forma de comunicação com os filhos.
Entretanto, a brasilidade dessas mulheres não se desvaneceu. Ela sempre esteve lá no fundo dos seus corações. A saudade da família e amigos do Brasil, saudade de pizza de São Paulo, de requeijão, de feijão, de churrasco, de chimarrão e de pinhão, saudade de fruta fresca e madura, saudade de cheiros da infância, de banho de mangueira, de chuva, cachoeira e mar. Saudade das conversas ao pé da porta com os vizinhos e das festas em família. Vontade de estar junto quando vem uma notícia triste, de abraçar, de consolar e ser consolado. Saudade de um conselho de mãe, um puxão de orelha ou um incentivo. Saudade de risadas com os irmãos e festas com os primos.
Tudo isso, todas essas memórias de infância e os valores que aprendemos durante essa fase, não se perdem. Eles estão lá, no fundo do coração, e basta alguém incentivar, que essa brasilidade volta à tona. Basta ouvir o som de um pandeiro, de uma viola, e mesmo que essas mulheres nunca tenham gostado de samba ou de música sertaneja, isso vai mexer com elas, vai remetê-las às origens, vai fazê-las sentirem-se orgulhosas da riqueza da cultura brasileira.
E é esse que tem sido o meu papel nesse último ano com o grupo „Turma do Balão Bávaro“, recuperar a brasilidade dessas mulheres, fazer com que elas consigam passar, pelo menos um pouco, da nossa cultura aos seus filhos. Trabalho longo e árduo, mas que vale muito a pena quando se vê o entusiasmo e o afinco com que se dedicam à causa, quando vi a emoção delas ao assistir o show de um grupo de teatro e música brasileiro que veio se apresentar na nossa pequena cidade: Os Buritis ,grupo musical de Brasília, que, com o apoio do governo federal e da iniciativa da Mala de Herança da Andrea Menescal, está em tournée pela Europa.
Para finalizar, essas mulheres, às quais eu me refiro, não são apenas três, são muitas e estão em todos os lugares do mundo à espera que alguém desperte essa avalanche de sentimentos em seus corações.
Larissa d’Avila da Costa, Gilching janeiro 2017