Antes de responder essa pergunta, há que estabelecer-se os parâmetros de chique. A visão de chique e de luxo varia de acordo com a percepção de cada um e, invariavelmente, com o poder aquisitivo. Desde que moro no velho mundo meu conceito de chique e de luxo mudou muito.
Para começar a explicar-me, devo dizer que não entrará na minha definição de chique vestir-se com roupas de marca, bolsas Luis Vuiton, perfumes Channel, óculos de sol Gucci ou Dolce e Gabanna. Para mim uma pessoa chique nos seus trajes é aquela que sabe vestir-se elegante e adequadamente para cada ocasião dominando a arte de achar roupas de qualidade a preço acessível.
Quando eu morava no Brasil, meu conceito de chique se restringia a, por exemplo, apreciar ópera, bons vinhos, champagne, restaurantes finos e comidas requintadas, passar férias na Europa.
Hoje em dia meu conceito já é bem mais prático. Não que tenha deixado de achar chique as atividades listadas acima – fora o passar férias na Europa, uma vez que eu moro aqui, acho agora chique passar férias em alguns lugares da Europa – mas o que mais aumentou a minha lista de coisas chiques foram os serviços que, no Brasil são rotineiros, mas que aqui custam muito caro ou até nem existem.
A lista é gigante, e para citar alguns exemplos: manicure, pedicure, depilação, faxineira, empregada, babá, empacotador no supermercado, porteiro de edifício, vaga na garagem no subsolo, prédio com elevador, só lembrando os mais básicos.
Manicure, pedicure e depilação atualmente não é tão difícil de se achar. Quando eu cheguei na Alemanha não se encontrava absolutamente nenhuma manicure e depilação em instituto nem pensar. De uns tres anos para cá houve um boom de serviços de beleza e eles se tornaram comuns e mais acessíveis, o que não quer dizer, que a manicure seja perfeita como a do Brasil no quesito tirar cutícula, pois aqui essa prática não é usual. Fazer mãos em salão de beleza aqui custa em torno de 16€ a 20€, para a manicure simples, que nós conhecemos do Brasil. Na Alemanha é muito comum fazer unhas postiças, e isso custa em torno de 40€. Resultado: acabou o meu luxo de fazer pés e mãos todas as semanas em instituto de beleza, tive que aprender a fazer isso sozinha, tanto como depilação com cera.
Faxineira: na Alemanha existe, mas não na forma de diarista como conhecemos no Brasil, quando se paga um preço por uma limpeza que dura o dia inteiro, fazendo-se todos os desejos do patrão. Aqui a faxineira é “horista”, ou seja, se paga por hora de trabalho. Cada hora custa em média 10€, e a moça irá fazer, a princípio somente o básico: passar aspirador, tirar o pó, limpar banheiro e cozinha. Mesmo assim não fica lá essas coisas, elas fazem do “jeito delas”, que definitivamente não é o “nosso jeito”. E se você reclamar ela provavelmente dirá que, para fazer melhor ou limpar os vidros, necessitará, então, uma hora mais de trabalho. Em geral paga-se por esse “basicão” tres horas de trabalho num apartamento de 70m². Portanto, diarista aqui = luxo, empregada = luxo inexistente, impagável, para os padrões Europeus.
Babá? O que é babá? Existe isso aqui? Nunca conheci ninguém que conte com esse tipo de serviço. O que tem aqui é baby-sitter, que é chamada por algumas horas para tomar conta das crianças enquanto os pais saem para um jantar ou cinema. Babá 24horas para atender os pirralhos quando choram a noite ou para trocar as fraldas = luxo imaginavel. Para quem tem filhos na Alemanha a vida torna-se bem complicada, pois além de não poder contar com serviços como babá ou empregada, há uma dificuldade enorme em conseguir lugar em jardins de infancia e não há berçário da forma que se conhece no Brasil. Ou seja, se houver alguém aqui que tenha uma é certamente pooodree de chique…
Empacotador no supermercado? Esqueça. Você já vai ficar feliz e se achando chique se for em um supermercado um pouco mais caro e não tiver que jogar suas compras de qualquer jeito no carrinho pois não há lugar para depositá-las na parte traseira do caixa (sobre o assunto ver cronica Supermercado).
Porteiro de edifício também não existe. Esqueça que haverá alguém para lhe abrir a porta do prédio, ou ajudar a carregar as compras, ou chamar um táxi, ou pegar aquele pacote ou encomenda deixada por um familiar. Ponto para luxo absoluto.
Vaga na garagem no subsolo do prédio? Chiquéeeeeerriiimo! Aqui você dará Graças a Deus, primeiro: se encontrar um prédio onde haja garagem. Segundo, se houver vaga disponível para você alugar uma, terceiro: ajoelhe-se e agradeça se você for parar num edifício moderno o suficiente, em que a garagem seja no subsolo. Como aqui os prédios são muito antigos, eles não possuem garagem. Você deixa o carro na rua mesmo e tem que ficar muito feliz se conseguir sair cedo do trabalho para que possa encontrar uma vaga perto da sua casa. Imagine o transtorno que é no inverno, você chegando cheio de compras, ou malas, ter que procurar lugar para estacionar, o lugar for longe de casa e ter que carregar tudo isso abaixo de neve ou de chuva. Por isso, prédio com vaga na garagem: “chique do úrtimo”!
E por fim, complementando o ítem anterior, pelos mesmos motivos, prédio com elevador. Induscutivelmente chique!
Assim que, se você tem a ilusão de que morar na Europa é chique, reveja seus conceitos. Aqui você certamente terá outras vantagens, mas a de ser paparicado, só se você realmente for muuuuuitooo chique!
Larissa d’Ávila da Costa, Mannheim, março 2010.