Wieso feiert ihr im Restaurant?

Essa crônica é ao contrário, sobre a intriga dos alemães em relação aos nossos costumes. Fomos convidados por um amigo brasileiro para comemorar o seu aniversário (sim, Cristiano, é você mesmo) num restaurante brasileiro em Mannheim. Quando contei ao Christian do convide, a pergunta veio de imediato: porque vocês comemoram em restaurantes?

Tja… como se expressariam os alemães (o “j” tem som de “i”), quando estão intrigados. Minha resposta foi a seguinte, nessa ordem de motivos: porque somos preguiçosos para fazer alguma coisa em casa, porque gostamos de estar na rua e porque no Brasil não é tão caro jantar em restaurantes.

Na Alemanha os aniversários ou qualquer outra ocasião festiva, exceto casamentos, são, em geral, comemorados em casa. O anfitrião passa o dia fazendo compras, arrumando a casa, cozinhando, tudo para que os convidados se sintam à vontade e divirtam-se. E diga-se de passagem, os alemães mandam bem na comida, não ficam fazendo cerimônia nem acham feio comer do começo ao fim da festa. Beber, então, sem comentários. O anfitrião tem, claro, o prazer de ver seus amigos e familiares reunidos, alegra-se de que todos estejam se divertindo, pode curtir um terço da festa e ainda tem que arrumar toda a bagunça e a sujeira no final, porque, lembre-se, aqui faxineira é artigo de luxo. Mas sempre vale a pena.

Discutindo o tema, o Christian me apresentou os argumentos para que essa trabalheira tenha no final um saldo positivo. Em primeiro lugar, há que se fazer a ressalva, que eles festejam aniversários em restaurantes, desde que seja só a família ou um grupo restrito de amigos. Para que as dimensões fiquem claras, para os alemães a família se restringe ao cônjuge, os filhos e netos e grupo restrito de amigos é, no máximo, dois casais.

Aos argumentos germânicos contra festividades em restaurantes: é muito impessoal; no caso de um grupo grande de convidados, você acaba conversando com as pessoas que estão sentadas perto de você e não circula pelo ambiente; não se pode dançar, e, claro, a questão econômica. Essa merece um adendo especial.

Na Alemanha (e na Espanha também) se você convida alguém, usando especificamente esse verbo, está implícito que o seu convidado não pagará nada. Se você convidar alguém, não importa se para tomar uma cerveja ou para um aniversário num restaurante, o convidado alemão automaticamente não terá a intenção de pagar. Se você simplesmente disser: “vamos tomar uma cerveja ou vamos jantar fora”, está claro que cada um pagará a sua parte consumida. E se daí então, você decidir pagar a conta, você poderá dizer “eu te convido”, e o caso está resolvido.

Então, Cristiano, se você convidou amigos e colegas alemães para o teu aniversário e não esclareceu esse detalhe da comunicação intercultural, melhor fazê-lo, ou preparar o bolso.

Larissa d’Avila da Costa, Mannheim julho 2009.