Se você for homem e ver um adesivo desses na tampa da privada de algum banheiro, não ria, não tire foto, e obedeça: o negócio é sério.
Quando eu decidi ficar na Alemanha, fui morar numa república com mais tres alemães, éramos duas mulheres e dois homens. Cada um tinha o seu quarto e dividíamos cozinha e banheiro, e, consequentemente, as tarefas domésticas. Na tampa da privada do nosso banheiro tinha um adesivo desses. Eu achei esquisito, mas não dei muita bola, já que mulher faz xixi sentada mesmo. Eis que um belo dia, recebi visita de uns brasileiros, que, obviamente nunca tinham visto um negócio desses. Quando um deles voltou do banheiro disse imediatamente para o outro:
– Cara, vai lá no banheiro e dá uma olhada no adesivo que tem colado na tampa da privada. Aproveita, leva a máquina e tira uma foto, a piada é boa!
Eu já sabendo do que se tratava disse logo morrendo de rir:
– Isso não é piada, o negócio é sério: homem aqui tem que fazer xixi sentado!
Pois é, os homens aqui fazem xixi sentado. Não todos, mas muitos. Razão: a mulherada acha nojento os respingos do xixi em torno da privada e se recusam a limpa-lo. As alemãs, conhecidas por serem muito bravas, quando reinvindicaram seus direitos feministas, incluiram esse na lista. Tiram o seu nome de solteira quando casam, mas não limpam xixi do chão; ficam em casa cuidando dos filhos até tres anos (muitas vezes abrindo mão da sua carreira profissional) mas não limpam xixi do chão. Alguma coisa me parece meio errada nesse feminismo alemão, mas tudo bem.
Passados uns meses do episódio narrado, conheci meu então namorado e, quando decidimos morar juntos veio a dúvida dele:
– Agora que vamos morar juntos, você se importa que eu continue a fazer xixi em pé?
Hahaha… quase soltei um “bah tchê, faz o teu xixi tranquilo do jeito que quiseres que nunca vou me importar com isso”. Mas como esse regionalismo todo em alemão ficaria muito difícil de explicar, eu disse simplesmente:
– Claro, porque, você acha que eu encrencaria com isso?
– Bem, se você fosse alemã era muito possível que sim.
Emancipação feminina à parte, a verdade é que as diferenças culturais no que tange os hábitos higiênicos são muito grandes. Nós achamos muito esquisito e até exagerado o homem ter que fazer xixi sentado, por sua vez, os alemães acham extremamente repugnante o costume brasileiro de jogar o papel higiênico numa cesta ao invés de jogá-lo na privada e puxar a descarga.
Quando contei para uma amiga alemã, que iria a primeira vez ao Brasil, que ela não estranhasse as lixeiras ao lado da privada, e que, sim, o papel deveria ser jogado ali, ela me olhou com uma cara perplexa e disse um sonoro: “que nojo!”. Muito provavelmente ela ficou pensando não só em ter que limpar o entorno da privada como também ter que recolher o lixo malcheiroso.
Com a mesma perplexidade reagirá um brasileiro com a notícia de que ele terá que fazer xixi sentando quando ver o adesivo na privada.
Culturas culturas, banheiros à parte.
Larissa d’Avila da Costa, Dresden abril 2012.
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